Leka e Kaverna

Tuesday, June 21, 2011

Vamos ao teatro ver OTELO?



No momento em que a cidade de Uberlândia assiste constantemente aos impasses relacionados à demolição do Teatro Grande Otelo, após oito anos de descaso público com o prédio, o grupo Athos de Teatro nos brindou, no mês de maio, com uma envolvente viagem ao universo de Sebastião Prata, o moleque Tião, o MOLEQUE TÃO GRANDE OTELO.
A peça intimista, concebida para 15 espectadores, tem dramaturgia e encenação de Luiz Humberto Arantes e conta com um elenco de seis atores, e era notável que mergulharam num processo de pesquisa intenso para realizar o espetáculo. Destaque para a atriz Aryadne Amâncio que interpretou Grande Otelo com maestria. Foi perceptível no trabalho a preocupação, não em transformar a atriz em homem, mas em se fazer a “otelização” da mesma.
O espaço do Centro Cultural Veredas, velho, com aspecto abandonado foi cenário perfeito para que, caminhando por entre os cômodos, rememorássemos com Otelo, sua família e amigos, momentos importantes de sua vida: a infância pobre, mas com o carinho da avó e da mãe que apoiavam o menino em seus sonhos. A ida para o Rio de Janeiro e seu “jeitinho brasileiro” querendo levar vantagem – aqui por necessidade – na venda do jornal, em cobrar informação, anunciando um “que” de Macunaíma no garoto. A vida adulta boêmia, o trágico casamento, o alcoolismo e seus efeitos... momentos do homem que viveu sempre equilibrando-se numa corda bamba circense.
A iluminação, assinada por Afonso Mansueto, pensada com cuidado para cada ambiente, nos impressiona. Ora está num velho lampião durante a meninice de Tião e, ora no nariz do palhaço que exerce encantamento no moleque com a mágica da menor máscara do mundo. Fica colorida como a alegria do bairro carioca da Lapa, hora como estrelas iluminando a solidão da noite em uma clínica de reabilitação. É, ora, sangue derramado após uma tragédia, hora inquisitória perante o julgamento do artista.
Otelo: culpado ou inocente? Pausa. Pausa longa. Tempo para fazermos a reflexão e dar o veredito final para nós mesmos. Grande Otelo transitou entre o melhor e o pior do ser humano, apenas isso. Viveu. E, como dito por Guimarães Rosa: “viver é muito perigoso”.
MOLEQUE TÃO GRANDE OTELO é fina, sutil, singela, mas nem por isso deixa de ser profunda e densa, um espetáculo obrigatório no momento em que o teatro pratica o abandono do personagem, do texto e coloca o corpo e suas possibilidades acima de tudo. O grupo Athos prova que texto e personagem não estão mortos, podem ser renovados e inovados.