Leka e Kaverna

Friday, November 25, 2011

Sobre cozinhar...





(Todas as fotos by Leka...)

Há dois anos atrás pesava entre 68 e 69 Kg... mas, desde que comecei a namorar, alterno entre 74 e 75 kg, porque amor e eu descobrimos o quanto é prazeroso cozinhar juntos. Como é mágico ver a mistura de temperos e ingredientes transformar-se em pratos deveras belos visualmente e mui saborosos. Amor e eu testamos, brincamos, misturamos e inventamos receitas todas as semanas. E claro, temos nosso degustador oficial, que sempre dá sua opinião, sempre positiva, meu filho Luís, que está sempre com a gente nessa oficina do estômago, cheia de amor e carinho, que é minha humilde cozinha em Uberlândia.
Que em 2012 possamos cozinhar mais e mais juntos, porque cozinhar também é uma prova de amor!

Em-cômodos



E quando restamos só nós três, a zinha lá começou a reclamar, e do jeito que mais me irrita, como se nós, aqueles três mulherões, fossemos crianças.
“Não pode”, “não tem”, “não funciona”, “ tem escorpião”, “elas acham ruim”...
Ah, me poupe...
As múmias adormecidas compõem tão bem aquele lugar fétido que se sentem as donas de lá.
Não adianta, nós conseguimos o direito de usufruir o mesmo espaço.
Também estamos trabalhando, e muito duro.
Elas ficam lá, todos os anos que acumularam, lá, fazendo a mesma coisa, a mesma rotina, tudo igual todo dia.
E nós chegamos: os subversivos, os loucos, os artistas...
“Uai, mas teatro não é quando tem uma história de bonzinhos e maldosos como na novela?”
“Não tem sofá?”
Não, nós não temos sofá, temos só areia.
Sim, nos sujamos, assumimos formas grotescas, modificamos nossas vozes.
Nem cabelo temos...
Temos poros, entupidos de areia, mas que respiram e enxergam e escutam e cheiram e tocam.
Incomodamos as múmias em seus cômodos secretos enquanto nos acomodamos em nosso cômodo ressignificado.
Em cômodos todos passamos uma manhã de sexta-feira.
E descobrimos que a diferença entre elas, tão arrumadas, sérias e nós, os sujos, os atores, é a cordialidade.
Mesmo com seus ferrões aparecendo, lhes desejamos um bom dia e nos despedimos.
Quem respondeu aos nossos “tchaus”?
Creio que se está incomodando é porque está funcionando!

Monday, November 21, 2011

Look!!!



Galera, sou fascinada por vestidos longos, são de uma sensualidade, de um charme... hoje vi esse look da atriz que já foi dirigida pelo mestre Tarantino em Planeta Terror, Rose McGowan, e fiquei fascinada... que belo vestido e corpo e sem vulgaridade alguma... vamos copiar, meninas!!!

Thursday, November 10, 2011

Mãos de tesoura e um coração tão puro...



EDWARD MÃOS DE TESOURA... produção by Leka.

Edward Mãos de Tesoura é um dos meus personagens preferidos do cinema... por ser feito pelo belo Johnny Depp e dirigido por Tim Burton. Mas, além disso existem outras questões...
Edward é diferente em sua aparência, e tem uma bondade e ingenuidade tocante. E claro, é "massacrado" por um bando de otários preconceituosos que julgam sem saber de fato a verdade.
Devido a essa vizinhança mesquinha, Edward é privado de conviver em sociedade e a viver para sempre em seu mundo tão seu.
Poderia ser uma história real, não?

Quantas vezes assistimos pessoas massacrando outras porque são diferentes e não se encaixam em padrões e normas impostas por uma sociedade tão alienada? Onde está escrito que tenho que ser igual a todo mundo?
Dias atrás fui esperar meu namorado no serviço para almoçarmos. Tinha acabado de sair de uma aula da faculdade e estava vestida muito simploriamente com sandália rasteirinha, bermuda jeans e uma blusa listrada soltinha, além de cabelo preso por um rabo de cavalo devido ao imenso calor que fazia. Ele sairia às 13h e cheguei um pouco antes do combinado, logo, como tinha um livro na bolsa eu o retirei e comecei a ler para passar o tempo.
Nos 15 minutos mais ou menos que fiquei no saguão daquele prédio comercial do centro da cidade, senti-me fuzilada por olhares umas tantas vezes. E o balanço não poderia ser outro, quem me condenava eram moças que usavam, embora de marcas e cores diferentes: o mesmo modelo de calça, blusa, sapato de salto e bolsa, além, claro, de todas terem o mesmo cabelo escovado e da mesma cor.
Pensei ionescamente: -Que bando de rinocerontes, meu Deus!
Eu era a estranha, de verdade?
Viva Edward!!! Quero ser anormal pelo resto da minha vida!!!

Monday, November 07, 2011

Uma Super Heroína...



(TENTATIVA LEKIANA DE PARECER-ME COM DOCINHO DE AS MENINAS SUPER PODEROSAS...)


Fala aí, que criança nunca sonhou em ser Super Herói? Salvar o universo, ter super poderes, ser amado por todos!
Mas um dia descobrimos que Super Heróis não existem! Pelo menos não como sempre assistimos na TV!
Super Heróis não passam de pessoas comuns que fizeram algo certo na hora certa... o palhaço de rodeio que pula na frente do touro quando este está prestes a atacar o peão que o montava, mais caiu ao chão. O bombeiro que estava no show de rock em que o artista por um cálculo errado em seus passos despenca do alto palco e tem uma parada respiratória. O varredor de rua que acha e salva um bebê recém-nascido da lata do lixo. O piloto que antes de ter o avião caindo e matando todos a bordo se comunica à base com os dizeres: "Estou salvando a escola". As mães...
A maioria das mães "ainda" são Super Heroínas: lavam, passam, limpam, cozinham, ajudam os filhos nas tarefas escolares, tem TPM e passam pelo menos 4 dias sangrando todo mês, trabalham fora, estudam e ao final do dia, quase sem forças, ainda encontram um lampejo de energia dentro de si para esperar o marido perfumada e sorridente, e conversarem um pouco sobre como foi o dia e quiça, ainda fazer amor antes de adormecerem, ambos exaustos...
Confesso que tenho uma vontade de desistir da Super Heroína que habita em mim... mas cada vez que a abandono, mais ela se encrusta em mim. E não sai. E fica sendo...

Tuesday, October 04, 2011

Um dia vou de vez pra lá...



Um dia sei que vou pra lá... vou sim, vou de vez pra’quele cantinho em que a areia encontra o mar. Vou pra lá, molhar meus pés, sentir o sol nos olhos, sentir o vento na pele... e entrar inteirinha naquele azulão sem fim. Um dia vou pra lá definitivamente e lá vou querer ficar até o fim dos meus dias.

Monday, October 03, 2011

Felicidade

Depois de 10 dias naquele lugar, com aquele bando de animais de todas as espécies e regiões, animais que só sabiam comer, beber, drogar, trepar, sujar, chafurdar... depois de dormir em cima de um edredom cheio de areia, de esperar horas por um banho e quando chegar minha vez, ou ver a água acabar, ou ver o esgoto sopitar com merda e imundície por todos os lados, o dia mais feliz da minha vida foi chegar de volta a minha casa e entrar no meu banheiro tão meu, meu, meu e meu... limpinho, branquinho, cheirosinho, quentinho. Um banheiro que era meu e de nenhuma outra praga.

Thursday, July 28, 2011

Espera...



Tem horas que... que... você não sabe, não sabe mesmo o que dizer, o que fazer... fica um vazio, a inércia da espera... e nada acontece. Não vem a palavra. Não vem o carinho. Não vem a compreensão. Nada. Não vem nada. E você só olha, olha? Quer dizer, observa, observa analiticamente e calculadamente, mas faz cara de paisagem, pra deixar incógnito se você observa ou não... e você espera... (Pausa) Você se sente na boca do leão. Mas cadê o leão? Caçando por aí! C-U-I-D-A-D-O! Você finge que não sabe... você está triste. Merda, mas nem pra chorar você serve! Então você só pode esperar... (Pausa longa) Suspira... Godot virá? Suspira mais fundo ainda... é, parece que não vai chover...

O que fazer com que o teatro faz com a gente?


                                                                 (Foto by Leka)

“O TEATRO sob Pressão”: este foi o tema do III Festival Nacional de Teatro de Goiânia este ano. Goiânia tem um festival nacional de teatro e eu não sabia da existência do mesmo? Claro, o que acontece artisticamente nas regiões sudeste e sul do país ainda nos chega mais facilmente e rapidamente, sem que fiquemos a procurar, pesquisando tanto, economizando assim tempo na vida acadêmica tão corrida que nós, estudantes universitários, levamos. Grande erro, grande acomodação a nossa!
E dessa forma, lutando como nós, como eu, para terminar o curso de Teatro da Universidade Federal de Uberlândia, com tantas dificuldades familiares e financeiras, também persiste o teatro alternativo no Brasil: com dificuldade de realização pela falta de incentivo e apoio, falta de espaço e verba para as produções que tentam sobreviver, competindo com o cinema, a TV, os shows musicais. E nesse panorama, o teatro alternativo busca seu lugar numa selva opressora mercadológica.
Foi também sob pressão, faltando 10 minutos para o início da peça, que após 1 hora perdida pelo centro de Goiânia, consegui chegar à galeria que abriga o espaço Goiânia Ouro para assistir na terça-feira, 19 de julho, O que fazer com o que Kafka fez com a gente, da Black Berries Wilted Company de São José do Rio Preto - São Paulo. Um público que nunca vi antes (ótimo), um blues e gelo seco criando um clima (delicioso) e ainda consegui sentar-me a primeira fila (perfeito). Percebi que os goianos gostam de ocupar as cadeiras que vão do meio para o fim do teatro, diferentemente dos uberlandenses que quase se engalfinham pelas primeiras fileiras, sou assumidamente uma dessas. Mas, a casa acabou lotando devido a tanta gente entrando atrasada, inclusive com metade do espetáculo sendo encenado, algo que me incomodou bastante, e ao jovem ator Gerrah Tenfuss, como o próprio disse em conversa com o público ao final de seu solo.
Um cenário simples, apenas duas filas de três cadeiras ao lado esquerdo do palco italiano, uma pilha de livros, outra de jornal e a figura imponente de um manequim trajado com terno à direita do palco, com a cara pintada de preto. E enquanto uma mistura de sons com vozes, buzina, avião, tiros de metralhadora causavam estranhamento, entra o ator, caminhando lentamente, rosto mascarado com uma espécie de meia preta (não sei) em direção ao centro. O corpo não era cotidiano em sua caminhada e causava uma angústia vê-lo se locomover como se houvesse uma impossibilidade de viver, de respirar. O fato de não se ver a face do ator nos transportava àquele corpo. Somos nós tentando viver/ sobreviver? E quando aquele corpo começa com dificuldade tentar libertar-se daquela “máscara”, a aflição nos faz contorcer na cadeira.
É perceptível que o ator tem exímio controle de seu corpo e que o mesmo não se deu com sua voz. Além de ter mantido um volume muito baixo em grande parte da peça, o registro por ele escolhido nos cansava porque as palavras não eram fluidas, saíam de seus lábios truncadas, soletradas. Quando Gerrah se libertava delas, ou quando acelerava as falas, ah, a peça crescia e nos “pegava de jeito”. As falhas no trabalho vocal foram discutidas ao fim da peça e assumidas pelo próprio ator que disse ser sua primeira peça verbal e acostumado a solos corporais com dramaturgia física, vem buscando sanar os problemas vocais a cada apresentação.
O que fazer com o que Kafka fez com a gente dirigida por Carolina Alvim, mulher de Gerrah, é a encenação na íntegra do conto de mesmo nome de Jair Ferreira do Santos, presente em seu livro Cyber Senzala, escritor que viu a estréia da peça e gostou, como confirmado pelo ator na conversa final. A temática gira em torno da influência que a literatura exerce na vida da gente. No texto, o personagem se contamina com a obra do escritor tcheco Franz Kafka e decide ser escritor, entretanto, ainda adolescente, acaba por reencarnar o próprio Kafka e discutir sobre o cinismo, a melancolia e a frustração que sente por não conseguir realizar sonhos ao chegar à maturidade.
A iluminação de Lu Lopes é um espetáculo a parte. O jogo de sombras, penumbras, cria um clima que nos remete tanto às memórias do personagem quanto à idéia de identidade não revelada/assumida. A paisagem sonora da peça criada por Ly Sarkis é interessante e vai de música para criar uma emoção piegas, como no relato do pai sobre o filho, passando por misturas de sons que criam momentos agonizantes e claustrofóbicos, até offs que remetem à lembranças.
O manequim, sempre em cena, seria a presença metafísica do próprio Kafka durante todo o espetáculo? O ator relaciona-se com ele apenas no início do mesmo, quando veste a roupa que ora o manequim portava. Colocar o figurino do manequim confere ao personagem uma metamorfose. A metamorfose kafkiana? Mas depois não se relaciona mais diretamente com o mesmo, e este fica ali, imponente, tal qual o pôster do astro do rock ou do futebol pregado no quarto que a maioria dos adolescentes idolatra.
Destaque para a cena em que as páginas de O Processo são arremessadas para o alto e caindo numa velocidade lenta, espalham-se por todo o chão deixando o palco belamente sujo. Aliás, durante a peça inteira coisas são deixadas pelo espaço. Pontos positivos para a sujeira que se instaura, mas, pela conversa com o ator após sua apresentação, foi algo que incomodou os presentes. Uma questão de gosto, ou interpretação.
Um espetáculo com um começo triunfal, um desenrolar humoristicamente negro, denso e de repente... acabou? Acabou mesmo? Todos ali sem saber se aplaudiam, um final incógnito, faltou algo que fechasse o solo, não sei o que é. Talvez Gerrah e sua companheira venham a descobrir o que falta com o aprimoramento do trabalho, algo que foi sugerido a ele após o espetáculo pelas figuras teatrais influentes de Goiânia presentes, haja vista que a peça ainda é um bebê concebido há pouco tempo, meados do ano passado.
Na peça fomos tocados pelas idéias, pensamentos de um homem que embora cercado de pessoas, amor, trabalho e diversão, sente-se solitário. E para tanto perde/funde sua identidade com a do ídolo, copiando-lhe inclusive o penteado repartido ao meio. Mas, um dia acorda... e não se reconhece. Em cena há a “kafkanização” do personagem e após anos frustrados por não atingir seus objetivos de juventude, há a “deskafkanização” do mesmo. Quem nunca buscou sua auto-afirmação alguma vez através de um ídolo? Algo natural do ser humano, principalmente na adolescência. Quem nunca foi altamente influenciado por alguma leitura que ficou ali, batendo estaca em sua mente até ter coragem ou força para tomar alguma atitude? O que fazer com que a literatura faz com a gente? Kafka influenciou Jair que influenciou Gerrah que me influenciou a escrever esse texto. A literatura faz coisas com a gente. Pensando mais profundamente sobre leituras que realizei durante a vida, talvez, se não fosse On The Road nunca tivesse separado e estaria num casamento machista e solitário até hoje. Obrigada, sir Kerouac. Sim, a literatura é muito “perigosa”. Não era à toa que Hitler ordenava que se queimassem livros durante o Nazismo. Mas Liesel Meminger era muito sábia! Alguém discorda que ela era?
Aconselho mergulharmos mais nas manifestações artísticas que ocorrem no interior do país, independente dos meios de comunicação indicá-las ou não, do centro-oeste, norte e nordeste, certeza que será uma experiência de muitas surpresas e aprendizado. E poderemos contar sobre o que festivais e a arte, interiorana e do extremo norte do país, podem fazer com a gente também, ajudando grupos e artistas a saírem da situação de descaso e abandono, da pressão constante. Está certo que a peça assistida é de São Paulo, e Goiânia, palco do festival, é uma capital, – mas a partir daqui já podemos começar a pensar em desbravar um Brasil culturalmente esquecido. Sabiam que Goiânia tem um festival nacional de teatro?

Thursday, July 21, 2011

Foto performance...





Experimentar... experienciar... externar... palavras que farão parte do meu vocabulário com mais frequência a partir de agora... às vezes sufocamos alguns desejos, matamos sonhos e nos livramos de projetos por... pelo que mesmo? Essa fase nova, essa ALESSANDRA IN PROCESS mostrará uma nova face dessa mulher que vos escreve, que nunca foi a mais normal, nem a mais legal, nem a mais inteligente e tampouco a mais bonita, mas talvez a que tivesse as ideias mais malucas e muitas vezes se reprimiu, não pelo medo do erro, porque errar é sadio sim. Mas por medo de julgamento, da humilhação, como aconteceu tantas vezes. Mas, depois que você aprende que quando apanha não precisa dar a outra face, mas arreganhar a boca no trombone e chorar e gritar com muita vontade, ah, você ganha seu espaço e o respeito que DEVE e MERECE.
Nas fotos acima, tiradas hoje por meu filho, que me compreende tão bem... está eu, colocando em prática uma vontade repentina que me deu... eu queria molhar meus pés, que estavam quentes após caminhar muito um shopping daqui de Goiânia, nessa tarde tão quente, meu Deus, que tarde quente, e daí veio essa vontade, entrar no chuveiro, mas sem me molhar inteira... ah, é isso, pode parecer banal, mas sou muito adepta do simples e básico. Gosto muito mesmo.

Monday, July 18, 2011

Silêncio...

É aquele momento delicado, ao extremo... aquele momento em que você prefere silenciar a falar besteiras, a fazer besteiras. É aquele momento em que você precisa pesar, analisar, até entender (tenho tentado)... complicado momento, momento de renúncia e abandono, mas não sem antes agir com muita calma e até frieza!
A questão é que tem que haver muita paciência porque senão eu atiro tudo pela porta, no meio da rua!
Então silencio... shhhhhhhhhhhhhhhhh... silêncio!

Wednesday, June 22, 2011

Despir-se para CALLE!


(Foto de Sophie Calle em alguma de suas performances...)

Ter certa intimidade com os atores da TRUPE DE TRUÕES, conhecer um pouco de suas vidas pessoais e seus conflitos amorosos vividos nos últimos tempos faz com que vejamos o espetáculo CALLE de uma forma bem específica: mais tocados e próximos do drama individual de cada integrante.
O trabalho que lotou o Teatro Rondon Pacheco durante o FESTIVAL LATINO-AMERICANO RUÍNAS CIRCULARES em maio, tem direção de Paulo Merísio. O espetáculo rompe a barreira entre ficção e realidade e é uma junção de melodrama (grande característica do grupo), performance e elementos dos viewpoints. Na peça, várias histórias desconexas tem como elo as rupturas amorosas vividas por cada um. Os atores mostram-se inteiramente despidos de proteção contra as dores de amor, fazendo com que a platéia sinta-se voyeur, cúmplice do sofrimento de cada um dos integrantes do grupo.
O clima de total intimidade inicia enquanto o público ainda encontra-se na fila para entrar no teatro e os atores cumprimentam, abraçam e conversam com as pessoas num clima muito amigável. A intimidade continua, quando, nos primeiros instantes do espetáculo, os atores Ronan Vaz e Juliana Nazar despem-se diante da platéia em vários ângulos causando um estranhamento impactante.
Ao longo do espetáculo, o bonito figurino é trocado constantemente, sempre em contraste com o nu freqüente, mas não chega ao vulgar, mesmo incomodando em certos momentos por tamanha proximidade. O vermelho quente-sangue-apaixonante predomina em cena, seja nos objetos ou na luz. Filmagens feitas para interação com a cena presente conectaram vídeo e peça rompendo a barreira de tempo. Canções “bregas” embalam as narrativas, que em muitos momentos, lembram filmes de Pedro Almodóvar, tamanha a explosão de emoções pulsantes que impregnam o espetáculo. A influência da performer Sophie Calle, outra inspiração para o grupo, é sentida o tempo inteiro, pois segundo a mesma, a dor é expurgada quando se fala dela, divide-se ela com o outro, o que o grupo faz com maestria.
Percebemos como o diretor realiza habilmente a antropofagia artística e nesse leque de influências nos brinda com uma instigante colagem sensorial e multifuncional.
Em síntese, embora longa, Calle apresenta: uma plasticidade impecável, qualidade estética, cênica, boas atuações, e tem uma densidade que nos deixa com a sensação de que a mesma precisa ser vista mais de uma vez, ou várias vezes.

Tuesday, June 21, 2011

Vamos ao teatro ver OTELO?



No momento em que a cidade de Uberlândia assiste constantemente aos impasses relacionados à demolição do Teatro Grande Otelo, após oito anos de descaso público com o prédio, o grupo Athos de Teatro nos brindou, no mês de maio, com uma envolvente viagem ao universo de Sebastião Prata, o moleque Tião, o MOLEQUE TÃO GRANDE OTELO.
A peça intimista, concebida para 15 espectadores, tem dramaturgia e encenação de Luiz Humberto Arantes e conta com um elenco de seis atores, e era notável que mergulharam num processo de pesquisa intenso para realizar o espetáculo. Destaque para a atriz Aryadne Amâncio que interpretou Grande Otelo com maestria. Foi perceptível no trabalho a preocupação, não em transformar a atriz em homem, mas em se fazer a “otelização” da mesma.
O espaço do Centro Cultural Veredas, velho, com aspecto abandonado foi cenário perfeito para que, caminhando por entre os cômodos, rememorássemos com Otelo, sua família e amigos, momentos importantes de sua vida: a infância pobre, mas com o carinho da avó e da mãe que apoiavam o menino em seus sonhos. A ida para o Rio de Janeiro e seu “jeitinho brasileiro” querendo levar vantagem – aqui por necessidade – na venda do jornal, em cobrar informação, anunciando um “que” de Macunaíma no garoto. A vida adulta boêmia, o trágico casamento, o alcoolismo e seus efeitos... momentos do homem que viveu sempre equilibrando-se numa corda bamba circense.
A iluminação, assinada por Afonso Mansueto, pensada com cuidado para cada ambiente, nos impressiona. Ora está num velho lampião durante a meninice de Tião e, ora no nariz do palhaço que exerce encantamento no moleque com a mágica da menor máscara do mundo. Fica colorida como a alegria do bairro carioca da Lapa, hora como estrelas iluminando a solidão da noite em uma clínica de reabilitação. É, ora, sangue derramado após uma tragédia, hora inquisitória perante o julgamento do artista.
Otelo: culpado ou inocente? Pausa. Pausa longa. Tempo para fazermos a reflexão e dar o veredito final para nós mesmos. Grande Otelo transitou entre o melhor e o pior do ser humano, apenas isso. Viveu. E, como dito por Guimarães Rosa: “viver é muito perigoso”.
MOLEQUE TÃO GRANDE OTELO é fina, sutil, singela, mas nem por isso deixa de ser profunda e densa, um espetáculo obrigatório no momento em que o teatro pratica o abandono do personagem, do texto e coloca o corpo e suas possibilidades acima de tudo. O grupo Athos prova que texto e personagem não estão mortos, podem ser renovados e inovados.

Monday, June 13, 2011

Coulrofobia tem cura?


"Em seus aposentos, o palhaço tira o nariz vermelho, põe seu sorriso no copo, pendura a alma num prego e repousa."

Aconteceu no dia 18/02/2011 às 18h, na praça Oswaldo Vieira Gonçalves, a estreia do espetáculo de clown “Cata, a Megera” pelo grupo uberlandense Anjos da Alegria. A praça e sua arquitetura foi cenário para o grupo e acomodação para a plateia que ali se aglomerou: moradores do bairro Aparecida e estudantes de teatro da Universidade Federal de Uberlândia, ansiosos pela peça e ao mesmo tempo preocupados com a chuva que ameaçava cair a qualquer momento.
Apesar de certa “clownstrofobia” ao gênero teatral em questão, não há como não valorizar um espetáculo de clown de qualidade, como já presenciei alguns. Entre eles, cito “Joana D’arpo” assistido em Ribeirão Preto no ano de 2007, experiência que proporcionou um prazer extasiante por tamanha verdade e beleza do trabalho solo da atriz suíça Gardi Hutter.
Assim como a atriz europeia que se inspirou, para construção de sua personagem, na mulher brava e guerreira “Joana D’arc”, o grupo Anjos da Alegria somou pontos por sugar na fonte shakespeareana, a essência de “A Megera Domada” para a montagem de seu trabalho.
Ambos espetáculos tem uma narrativa e não são apenas gags que (re)conhecemos desde a infância, e que programas de TV ainda hoje insistem em repetir. Mais que o riso fácil e sem criticidade, as peças clownescas possuem o poder de desestruturar verdades cristalizadas, e fazer a contranarrativa de uma sociedade.
Em “Cata, a Megera” por exemplo, há a ridicularização do casamento, considerado por muitos uma instituição falida, na figura da moça que não quer casar porque não se aceitará submissa ao marido, do pai que quer levar vantagem com esse casamento e da irmã que só poderá entregar-se a um amor quando a “megera” casar-se. Catarina, a megera, tem o poder da máxima “to be or not to be” em suas mãos: ser livre e dona de seu nariz, ou ser domesticada e viver à disposição das vontades de seu marido? A situação é resolvida quando Catarina após casar-se contra sua vontade, pois fora amarrada e amordaçada, é domada pelo rústico marido... Por que uma mulher não pode casar-se, viver um grande amor e ao mesmo tempo ter autonomia e voz ativa em sua vida? Essa é a contranarrativa. O problema não é o casamento, mas, a forma como a sociedade o enxerga, como um pensamento binário: ou se é livre, ou se é preso. Uma pena a peça uberlandense não discutir essa terceira possibilidade.
Como elementos de cena o grupo utilizou um tablado colorido ao fundo que serviu de coxia para saída, entrada e esconderijo de objetos cênicos que iam se revelando no decorrer da apresentação, e posicionou a esquerda dessa estrutura alguns instrumentos musicais que eram usados para sublinhar as cenas que se desenrolavam. O tablado e a música faziam-se mesmo necessários ao espetáculo? Penso que seriam dispensáveis e que a peça seria muito bem conduzida sem os mesmos. O figurino, elaborado com apreço, mesclou antiguidade “elisabetana” à peças modernas como tênis ALL STAR e meia arrastão em sua composição.
A paródia e o exagero característicos na “palhaçaria” estavam presentes no espetáculo, assim também como o que é de mais fundamental na essência do palhaço: a disponibilidade para o jogo e para o outro, infelizmente não em todos os atores e momentos. Houve atriz conhecida por nós, ou pelo trabalho, ou por roda de amizade, que parecia não se desvencilhar de personagens vividos em outros trabalhos fora do gênero clownesco, fazendo da peça uma extensão dessas experiências, não que isso seja negativo, mas é apenas uma observação. Houve ator que parecia ainda não estar pronto/envolvido no jogo que se construía no instante da atuação, permitindo que a plateia se desligasse um pouco da peça. Entretanto, houve sim quem teve o prazer de brincar expressando tal desejo através de seu corpo, na voz e na relação com o público, e quando essas pessoas “atuavam”, os expectadores voltavam a se envolver com a narrativa.
O ápice do espetáculo deu-se quando os clowns se dirigiram ao público perguntando como Catarina deveria tratar Petruchio, e claro, a plateia sugeriu algumas situações e os atores tiveram que realizar os pedidos: um amor melodramático, uma noiva cheia de desejo e vontade pelo marido. E é aí que o espírito clown verdadeiramente vive, nesse momento em que as possibilidades de responder aos estímulos externos estão abertas.
“Cata, a Megera” conseguiu estabelecer o momento de comunhão com o público que o teatro de rua busca e, nesse sentido, a contemplação estética renegada a segundo plano não fez com que a peça deixasse de envolver o público. Diferente de “Joana D’arpo”, quando aquela desastrada clown suíça proporcionou ao mesmo tempo: comunhão e contemplação estética, e sendo europeia provou que o riso é universal.
Joana D’arpo lutou, mas morreu. Catarina lutou, mas casou e ficou “boazinha”. E para a alegria geral de todos, a chuva ameaçou, mas disse não e evitou cair naquele fim de tarde em Uberlândia! E enquanto isso, escondo minha aversão ao clown embaixo da cama...

Sunday, June 12, 2011

Teatrinho com qualidade...

A primeira noite do espetáculo adulto do grupo do Rio de Janeiro “Os Tapetes Contadores de História” chamado 3 Horizontes, em Uberlândia, aconteceu no dia 11/03/2011. Baseado em contos de Marguerite Yourcenar, três atores/narradores e uma violoncelista/atriz/narradora dividiram o palco do TEATRO RONDON PACHECO em três narrativas que tinham como link entre elas um caminho trágico que levava à temática da morte.
A primeira história era sobre uma mulher cujo amante morto fora também o assassino de seu marido, e esta vivia entre o desejo e a culpa. Na segunda história, uma mulher presa e “concretada” viva, não abria mão do seu direito de ser mãe, de amamentar o filho até que seu seio secasse. E na terceira narrativa, um pintor chinês acaba integrando-se a sua obra de arte.
Apesar do espetáculo iniciar com um clima instigante aos sentidos, instaurado por música de violoncelo, gelo seco e três atores sentados no palco, vestidos em tons de vermelho, numa espécie de transe, enquanto adentrávamos o teatro e nos acomodávamos nas poltronas, existem vários elementos que não contemplam esteticamente a peça.
O trabalho corporal e vocal de ator ficou a desejar (por talvez esse não ser o foco do grupo), inclusive houve incômodo com o sotaque carioca extremamente carregado do ator Cadu Cinelle. A falta de força e verdade cênica de alguns personagens, como o Imperador da última narrativa decepcionou imensamente por não se ver na atriz um imperador e nem o desejo de fazê-lo. Houve um cansaço generalizado com as narrativas sempre num andamento lento, causando desconforto nas pessoas que não paravam de se mexer e mudar de posição, promovendo um ranger constante das poltronas. E principalmente, a forma ilustrativa/representativa de como o grupo contava as histórias, tropeçando no caricato muitas vezes, não agradou o público. Mas, se o espetáculo foi vencedor do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, alguma coisa especial ele tem.
Embora não tenha caído no gosto da plateia, encontra-se no trabalho assistido algumas características poéticas: beleza nas imagens que se formam, a simbologia das cores que nos afeta e a ressignificação dos objetos que mexem com a imaginação. É interessante como a luz penetra o espetáculo, hora manchando tudo de vermelho (paixão/pecado/sangue), hora em pequenos focos, dando uma importância íntima e pessoal àquele acontecimento narrado. Os silêncios instaurados em alguns momentos são fortes, porque dão a impressão de reflexão profunda do personagem e de cada espectador presente. Deixar-se afetar por esse universo de cores e significados, em muitos momentos, nos faz esquecer de prestar atenção ao texto das histórias e mergulhar nessa beleza plástica que toma conta do palco, aliás, muito bem distribuído e utilizado.
Talvez não devêssemos ver o espetáculo 3 Horizontes como uma peça teatral, mas sim como um momento de ouvir uma contação de histórias, método já tão ultrapassado nesse momento em que teatro quase não tem texto e muitas vezes assistimos apenas corpos e suas potencialidades. Dessa forma, o que deixou a desejar esteticamente se compensa com a sinestesia de cores, sentidos, significados, sabores, dança e música presentes nas narrativas. Nesse sentido, o “demonstrar o que se diz”, a grande crítica negativa entre o público em relação à peça, ganhou qualidade. E provavelmente aí sim, encontramos a explicação para o trabalho ter sido prestigiado com um prêmio cultural.

Thursday, June 09, 2011

PARADA DE RUA


Namorado e filho apreciando PARADA DE RUA - LUME. Foto by Leka.

1º de maio, 16h, Praça Tubal Vilela – Uberlândia/MG

Estranhar, pelo fato de esperar uma narrativa linkada. Mas, apreciar por ver expostos na rua corpos vivos e extra cotidianos, e potencialidades vocais conquistadas com todo o afinco que o grupo LUME Teatro nos oferta com seus tantos anos de trabalho (desde 1985), tornando-se uma das companhias mais renomadas do país.
O título “Parada de Rua” nos remete ao ato de desfilar em comemoração a algum dia festivo. No caso, casou-se com a data de 1º de maio, DIA DO TRABALHADOR, e ao mesmo tempo, instaurou-se um clima de zombaria com a data devido a presença clownesca na “peça”, mesmo que nenhum ator usasse a máscara, mas percebeu-se as características da palhaçaria quando o cortejo “cênico-musical” percorreu a Praça Tubal Vilela em Uberlândia. Ora se viam em cena loucos, ora uma fanfarra militar, ora atores/músicos/performers tocando, dançando, cantando músicas populares do Brasil e do mundo. O grupo explorou o espaço da praça, movendo o aglomerado de pessoas (a grande maioria do meio teatral, como sempre) a segui-los, instaurando o clima festivo e alegre das comemorações coletivas.
O fluxo de movimentação constante, muitas vezes desnecessárias, e o fechar do público em redor do grupo, como numa grande roda de ciranda, mas em alguns momentos com uma circunferência apertada para os parâmetros da praça, foram fatores negativos do espetáculo, pois cansou e impediu pessoas de poderem ver o que acontecia no centro da apresentação. Tantas vezes fiquei a apreciar apenas o que eu ouvia, mas nada via.
Em 14 anos de “Parada de Rua”, uma vez que a estreia deu-se em 1997, creio que a “performance” do grupo tenha conseguido sempre estabelecer um acontecimento único, que nunca se repete, uma vez que está em intercâmbio com diversas culturas e diversos públicos, penso em como o grupo incorpora isso e como tudo isso reverbera em mais de uma década da mesma apresentação que nunca é a mesma.

Sunday, April 24, 2011

A Borboleta Amarela



(TEXTO ESCRITO PRA TRABALHAR COM CRIANÇAS QUE EU DAVA AULA DE TEATRO ANO PASSADO...)

Catariana estava triste, muito triste, sua mãe a havia mandado ir para o quarto de castigo porque ela não fizera com capricho a tarefa escolar: pintou sem cuidado, escreveu sem vontade e deixou a atividade incompleta, só para poder ir brincar no parque com as amiguinhas logo.
Mas agora ela apenas chorava e via as amigas felizes e saltitantes pelo vidro da janela de seu quarto, sem poder falar com elas. Pensou:
_Tudo o que me faria feliz nesse momento seria se uma borboleta amarela aparecesse aqui pra brincar comigo.
Detalhe, Catarina amava as borboletas amarelas que apareciam no jardim de sua casa constantemente, ela adorava correr atrás delas e deixar que pousassem em seus dedinhos. Mas talvez porque a menina estivesse triste, não avistava nenhuma borboleta no momento.
Porém, o que ela não sabia era que logo ali, bem debaixo dos seus olhos, um casulo abrigava um serzinho que outrora tinha sido uma levada lagartinha comilona, mas que num belo dia começou a ser envolvida por algo que ela não sabia o que era e apenas ficou ali, quietinha, quentinha, pacientemente esperando para ver o que acontecia, “e como o tempo custava a passar”, pensava ela. Mas de repente, PAM, ela sentiu uma parte do seu corpo libertar-se, depois mais uma vez, PAM, outra parte do seu corpo libertou-se, e ela sem saber que ganhara asas, ficou ali as batendo desajeitadamente até conseguir alçar seu primeiro vôo e descobrir-se uma linda borboleta amarela que ganhava altura e voava na direção da janela do quarto de Catarina.
Quando a garota viu a borboleta amarela se aproximando, parou de chorar instantaneamente e abriu um sorriso iluminado. Abriu a janela e deixou que a borboletinha entrasse e pousasse em seu dedo indicador direito. Sem esconder a emoção, Catarina começou a cantar:

“Voa voa borboleta, borboleta amarela, vai dizer para a mamãe, que eu gosto muito dela...”

A mãe que acabara de entrar de surpresa no quarto da filha viu a cena e com verdade disse:
_Amo você, filha. Eu a coloquei de castigo porque a quero bem, apenas para que refletisse sobre o cuidado que deve ter também com seus estudos, assim como cuida tão bem de você, dos animais, da natureza, das pessoas...
_Eu sei mamãe, pensei sobre o que fiz, sei que errei ao fazer mal feita a minha tarefa para poder ir brincar logo, me desculpa, serei mais caprichosa. Eu te amo!
E a borboleta saiu do dedo da menina e ganhou novamente o jardim, sua liberdade! Mãe e filha se abraçaram. Catarina sentindo seu coração acelerado afirmou:
_Mamãe, olha, quando a gente se abraça nossos corações se encontram!
_Sim, meu amor, é claro...
E de mãos dadas foram na direção da janela e ficaram olhando a pequena borboletinha amarela que ganhava o mundo lá fora e estava cada vez mais distante.

AUTORA: Alessandra Ramos Massensini – julho de 2010

A Lenda de Zé do Bucho



Diz a lenda que havia um sujeito malvado, mal humorado e que não amava a natureza chamado José da Silva. Por ser muito comilão e de uma vez comer um leitão, ficando com aquele barrigão, ganhou o apelido de Zé do Bucho.
Sozinho ele morava e no meio da mata com sua espingarda sempre estava a caçar passarinho para fazer picadinho. Se não achava, servia o que encontrava: sapo, cobra, lagarto, porco do mato, tatu e até urubu.
Mas houve um dia em que pelo mato caminhava e para se alimentar nada encontrava, a barriga fazia dó, estava que roncava. Até que ao passar por uma grande e centenária árvore, avistou uma juriti que cantava, lambeu então os beiços e apontou-lhe a espingarda, mirou, mas a ave foi esperta e se escondeu, por entre os galhos do jatobá desapareceu.
Ah, lindo jatobá! Árvore antiga, antiga na região: frondosa, enorme, vistosa, era a sensação!
Porém, tão bravo Zé ficou que a árvore xingou, até sua cabana foi e seu poderoso machado pegou. Com vários golpes, o jatobá derrubou, mas sinal da juriti não encontrou. Para casa seguiu, o estômago a roncar e sem tomar um banho resolveu se deitar.
Quando enfim dormia, bateram em sua porta, ele acordou e resmungando perguntou quem era, não teve resposta, pensou estar sonhando, acabou novamente dormindo e roncando.
Mas outra vez em sua porta bateram, Zé perguntou quem era e sem resposta levantou-se muito bravo, abriu a porta e foi ver quem lá fora estava a zombar-lhe. Ninguém!
Estava ele novamente a cochilar e uma voz em seu ouvido então começou a sussurrar: “_ Uh, uh, uh...”
O emburrado Zé acendeu uma vela que ao lado da cama estava, e o que ela iluminava, ele não acreditava. Lá estava o espírito da árvore que mais cedo cortara, a lhe atormentar e se aproximar, até o engolir e Zé do Bucho para sempre sumir...
Para sempre sumir? Que nada! Dizem que quem anda pelo cerrado goiano em noite de lua cheia, vê um homem vagando sem rumo ou direção, e uma juriti caçando com uma espingarda na mão.

MORAL DA HISTÓRIA: Cuidado com o que você faz com o meio ambiente, ele poderá se vingar um dia.

AUTORA: ALESSANDRA RAMOS MASSENSINI – junho de 2007

Monday, April 18, 2011

Diário achado 3...

(Gente, texto escrito há mais de 7 anos , e dá para ver que eu estava puta com alguma moça que não faço a mínima ideia hoje de quem seja... pode? E olha que eu estava muito brava com ela mesmo!)

O que você acha??? Quem pensa que é??? Ah, no momento está se achando a CARLA do LS JACK (comentário atual: kkkkkkkkkkkkkkkk, que isso, meu?), não?... Como ousa vir bater a minha porta pela segunda vez? Ah, esse seu risinho sarcástico junto com sua inteligência artificial. Conseguia ler seus pensamentos, sua safada!!! Faça bom proveito desse seu troféuzinho de merda. Volte para o seu grupo de axé, seu projeto mal sucedido de dançarina do TCHAN (comentário atual: kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, pausa... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk). Até pra cantar a porcaria de NÃO SEI VIVER SEM TER VOCÊ, você deveria escovar sua boca com soda cáustica... E essa sua pose de santa, assuma-se, meu bem, não tenha medo! É tão lindo ver uma pessoa autêntica... Bem, não precisa tentar me provocar, se estou pouco me fu... pra você e ainda mais pra quem a rodeia, vocês todos são tão falsos quanto uma nota de R$ 3,00 reais e mais bobos que arrotar depois de beber COCA...
Sabe, odeio pessoas que se acham, babacas que não conhecem porra nenhuma da vida e acham que vivem no ridículo seriado "Malhação", gente que se julga o foda do pedaço, mas sequer deve ter tomado uma garrafa inteira de SKOL ou sentido gosto de nicotina na garganta(comentário atual: que coisa ridícula!!!)
É, bem que o sr. "C" avisou-me no Carnaval... bem que ele avisou enquanto ríamos das atitudes ridículas de uma cidadezinha goiana... enquanto vocês se achavam, sambávamos em suas covas!!!

Diário achado 2...

Meu belo e jovem guerreiro medieval, sabe que adoro-te, não? É bom falar contigo através de nosso mensageiro instantâneo, já que a batalha que enfrenta é em uma terra longínqua a minha, está você ao Sul do reino, enquanto eu me encontro no coração do mesmo. Você está sempre tão cheio de energia, questionando-me sobre assuntos tão íntimos da minha monarquia. E sempre fica bravo comigo porque me desvencilho de suas incógnitas. 10 batalhas e alguns castelos nos separam, e também nossos objetivos na guerra são opostos, mas ah, achei lindo você desculpar-se por não saber fazer poesia quando a lua lhe banha e as estrelas são suas guias nas noites de caminhadas solitárias.
Quero que saiba que aprecio "aquele" assunto tanto ou até mais que você, meu doce guerreiro, mas é complicado para mim no momento, meu povo cobra-me, vigia-me, então fujo de seus ataques.
Não fica bravo comigo de novo, não... mas não adianta pedir isso, você sempre fica...

(Gente, e esse texto, da mesma época do "Diário achado 1...", olha o que eu escrevia, caraca, rachando aqui... sobre esse "guerreiro medieval", esqueci seu nome e nunca mais soube qualquer coisa a seu respeito.)

Diário achado 1...

Enquanto sua voz é música para meus ouvidos, fecho meus olhos e imagino você em minha frente... Acontecerá isso algum dia? Não sei... mas aprendi a lhe admirar... suas palavras tão poéticas, seus gritos de revolta e amor, sua beleza exótica, esses seus traços tão enigmáticos pra mim, seu cabelo indecifrável, seu sorriso beijável, sua vida tão diferente!
Sempre me perguntam se estou apaixonada por você... a verdade: estou, mas não como uma mulher se apaixona por um cara, achando que este agora é o homem de sua vida. Mas como se apaixona por alguém sábio, profundo e cheio de atitude.
Você se transformou em meu ídolo, meu mestre das palavras!

(Putz, rachei aqui ao ler isso escrito há mais de 6 ou 7 anos atrás, perdido nas minhas coisas... a verdade é que conheci a pessoa, fantasiei, descobri um pouco de sua verdade e hoje, sinceramente, o acho um mortal bobo, sem graça e até desprezível...)

Texto inacabado...

Um cigarro, 5 minutos, e uma vida inteira passa pela minha cabeça... tanta gente ao redor, tanta História e estória, sotaques, canções ao violão, e eu praticamente só e perdida, mais uma vez.
Vejo-me aqui, literalmente sentada na sarjeta e mendigando pedaços de amor de alguém que me trata menos que uma amiga, alguém que ainda nem se encontrou e encontra-se tão só e perdido como eu!
Nesse momento, com esse texto iniciado e ainda inacabado, nesse calor soterapolitano, uma estátua de mármore me vigia, três estrelas me iluminam, um vento que não combina com a cidade passa rápido e me arrepia, e meu coração tão cheio transborda e sangra...

(Texto escrito no início do ano de 2009 em Salvador-Ba)

Tuesday, March 29, 2011

Memória

Ela não sabe porque, nem como, não sabe de verdade o motivo, ela só sabe que foi acometida por um acesso de fúria e foi para cima da indefesa criança... primeiro com tapas, socos e chutes, depois, numa covardia sem tamanho enquanto a pobre criança estava ali, indefesa, chorando, com os bracinhos no ar em frente ao rosto, ela pegou um chinelo e bateu tanto na face da criança deixando-a roxa, marcada, deformada. Ela escondeu a criança em casa por uma semana...

(Repetir criança tantas vezes é intencional...)

Wednesday, February 23, 2011

Sozinha



(Um texto que caberia perfeitamente ao momento república que vivi nos últimos três anos e as moradoras vazavam fora quando chegava a sexta-feira... mas não, foi escrito há muitos anos atrás... quando eu morava em Minaçu, e diz respeito aos finais de semana que passava, maravilhosamente bem, quando minha família ia para a nossa chácara.)

Outro fim de semana sozinha, todos partiram, a festa solitária recomeça: tudo para mim: TV, som, sofá.
Não preciso de hora para nada, eu faço meu tempo.
Música alta, Malibu, cigarros, ninguém para praguejar.
Eu, comigo mesma, um caso de amor. Um caso de humor. Ficar de roupa de dormir o dia todo. Sozinha, trancada, janelas fechadas, ver o telefona tocar, coitado, eu não atender e tirá-lo da tomada.
Hoje todos saíram e eu quero me curtir, sem preocupações, só eu... eu... eu... eu... eu... um fim de semana inteiro só para mim.
Quem disse que a solidão é ruim? Nem sempre... é maturidade também, capacidade de estar consigo mesmo, numa boa. O tempo todo com gente é muito chato.
Às vezes tudo o que se quer é ouvir sua própria voz, desafinada, mas cantando bem alto aquela canção legal junto com o CD que sempre pedem para você abaixar o volume. Ninguém para reclamar.
_ Não! Não venha aqui hoje, passa semana que vem...

Tuesday, February 22, 2011

ECO E NARCISO



(Eu também fiz uma versão de meu mito preferido...)

A pobre Eco se apaixonou, Narciso foi o escolhido. Ingênua ninfa, ele não a quer. Considera-se o mais belo e vive a contemplar sua imagem nas puras águas da fonte. Idolatra-se. Pobre Eco, um coração tão cheio de amor pisoteado. Desesperada, ao Cupido pediu ajuda, mas suas flechas de nada adiantaram. E a pobre Eco, tão enamorada, sofrendo de amor, sucumbiu à tristeza. Seu espírito fora transformado em vento. Para Narciso, indiferença, mas uma que se foi...
Então, certa deusa por ele também repelida, uma maldição lançou, fez Narciso desejar enlouquecidamente aquele belo jovem que ele admirava tanto nas puras águas da fonte. Narciso apaixonou-se por si mesmo. E não arredou dali, querendo ardentemente o amor daquele moço... Até padecer. Transformar-se em flor. Amarela é sua cor.
Eco, vento, todos os dias ia visitar seu amor, ali, flor, aprisionado para sempre, enquanto ela podia ainda correr pelas florestas. Eco era livre, enfim...

Monday, February 21, 2011

Para ela...




(Já faz alguns anos que escrevi...)

E hoje me lembrei de você. Do seu sorriso. De toda a sua paixão. Daquela segurança que eu admirava. Quantas vezes não lhe disse que queria ser como você? Mas não conseguia... confiante demais, segura demais, inteligente demais. Quantas tardes juntas, e com você, tantas coisas pela primeira vez. Quantos sábios conselhos me deu, e eu, tão ingênua, não ouvi...
Por que fez isso? Acabou a confiança? Desapareceu a segurança? Era uma vez uma inteligência? Faltou um arco-íris após a fria chuva? Não havia estrelas ou lua na noite escura? Sumiu o cobertor para aquecer do inverno?
Por que fez isso? Queria que ainda estivesse aqui... mas você quis ir embora antes da hora. Eu lhe admirava tanto, queria tanto ser como você, quantas tardes juntas, quantas coisas juntas. Por que se foi sem me ensinar tudo?
Talvez eu entenda, quis encontrar Rimbaud logo, hein espertinha? E aí, como ele é? Pra ser sincera, eu o acho meio arrogante. Faz um favor, diz para o Renato que ele tinha razão: “os bons morrem antes...”
Não importa onde esteja, amiga, vai estar sempre viva em meu coração, com aquele jeitinho tão seu, rindo na escada do seu prédio, comprando “Amanditas” para o lanche, tomando chope escuro no shopping, assistindo aula de óculos escuros, trabalhando tão séria no computador enquanto eu folheava suas revistas, e naquele silêncio que se instaurava eu lhe admirava tanto e você nem sabia.
Queria ser como você: tão confiante, tão segura, tão inteligente... tão segura.

Tuesday, February 15, 2011

VELHA, CANSADA E SEM PACIÊNCIA!!!


(Banda Fictícios mandando ver...)


Na noite de 05/02/11 aconteceu no COLISEU HALL, aqui na cidade de Uberlândia, um evento rock and roll chamado ROCK BLOOM. Acompanhada de meu boyfriend, deixei meu filho sozinho em casa (calma, ele não é nenhum bebê, é um rapazinho de 12 anos) e partimos para a festa que era a poucos quarteirões da minha casa. 15 reais de cada um no ingresso, pois pagamos meia. Detalhe: não apresentamos nenhuma carteirinha de estudante ou grade horária, nem doamos nenhum quilo de alimento... e adentramos o local. Apresentamos identidade, meu namorado foi revistado, eu não, e passamos por mais uma porta, agora a que daria acesso ao rock.
Primeiro impacto: não tinha muita gente, mas tudo bem, evento muito lotado é um saco, pisam seu pé, você esbarra em gente toda hora e tem que se desculpar o tempo inteiro... Segundo impacto: opa, que tanto de criança “restartizando” o local era aquela, uai, mas não pediam identidade na porta, podia entrar menor ali? Não entendi e também não fui atrás questionar, eu queria era saber de mim, se os pais daquela pirralhada deixaram que saíssem, quem era eu para encrencar? Terceiro impacto: o evento estava marcado para iniciar às 19h, afinal eram 8 bandas, contando que cada banda tinha que afinar seus instrumentos antes de entrar em cena, mesmo sendo dois palcos, as coisas tinham que sair no horário certo para não haver atrasos, para cada show acontecer com tranqüilidade. Mas não, não foi assim, a primeira banda subiu ao palco mais de 10h da noite, ou seja, todas as bandas iriam atrasar e certeza que não tocariam todas as canções de seus set lists. Em outras palavras, “FERROU, MANO!”
Mas vamos aos shows... Cheguei a tempo de não ver as duas primeiras bandas, tudo bem, a causa, motivo, razão ou circunstância de eu ir ao evento era a banda CARBONA do Rio de Janeiro e o Guns and Roses cover de São Paulo. E seriam as duas últimas bandas a se apresentarem. Confesso até que me dava certo alívio quando escutava os vocalistas das outras bandas dizendo: “Vamos tocar a saidera...”, eu falava baixinho: “Amém”!
Mas opa, opa, espera aí, eis que surge em meio a essas bandas que não me interessavam uma banda no palco secundário cheia de problemas com o som do baixo que não estava saindo e os caras tentando arrumar para começar a tocar, o vocalista com muita humildade... sim meus amigos, acho essa palavra chave para o evento, já falo o motivo... o vocalista com muita humildade se explicando, era um baixinho, magrinho, cabeludinho, invocadinho e tal que foi contando como foi viagem para Uberlândia, eram de São Paulo. Aê, acertam o som dos meninos, depois de muita espera. Então o vocalista solta uma palavra mágica para mim, música para os meus ouvidos: HARDCORE... hum, me alegro, HARDCORE, vocês sabem o que é isso pra mim? Não! Eu sei! E “puta que pariu”, bastou aquele carinha cheio de “inho” abrir a boca para se tornar um gigante, um moinho de vento com a força de todos os moinhos de vento da região de La Mancha girando ao mesmo tempo, perdoem a palavra, mas preciso dizê-la: CARALHO! O que foi aquilo, meu Deus, que banda boa, como não a conheci antes, queria saber as letras para cantar com o vocalista que tinha uma energia super sayajin, me fazia arrepiar. Chegou um momento que não resisti, dei a minha bolsa e relógio para o namorado segurar e adentrei a roda punk, era irresistível para mim. E nadei naquele mar de homens tatuados com camisas grudadas de tanto suor a dar braçadas e pernadas a torto e a direita tentando sobreviver naquele oceano underground. O nome dessa banda maravilhosa é Fictícios.
Carbona mandou muito bem, obrigada. Falavam pouco e engatavam uma canção atrás da outra. Pena que eu já estava cansada e os caras não tocaram muitas músicas do início da banda... fora isso minha cabeça estava nas sete chamadas não atendidas que meu filho já havia feito a mim e eu não vi, nessa altura já eram 3h da manhã. Ainda bem que “Meu Primeiro All Star” e “Fliperama” estavam lá, para eu poder resgatar um saborzinho do meu passado goiano.
Já o Guns cover não fez bonito... talvez pela correria e ego rock star do Axl “magricela” Rose cover. Poxa, se eles já estavam atrasados e não poderiam tocar todas as músicas previstas para o show, por que o front man necessitava de tantas mudanças de roupa? Ficasse com a que iniciou o show: a famosa camiseta “KILL YOUR IDOLS” com Jesus Cristo crucificado, o mini shortinho preto de cotton e a boa e velha camisa xadrez em tons de vermelho amarrada a cintura, calçado com uma botinha preta, lenço vermelho amarrado à cabeça juntamente com um boné vermelho e óculos escuro... se o cara não tivesse tanta preocupação narcisista em se caracterizar como o verdadeiro Axl, daria tempo de tocar mais uma canção, ele não ia precisar de no final pedir para escolhermos entre “Sweet Child O’Mine” e “Paradise City” para fechar o show. Fez uma votação básica ali ao que sabiamente “Paradise City” ganhou! Gostoso no show dos caras foi curtir “Patience” e “Don’t Cry” abraçadinha ao namorado... mesmo estando mega cansada, com dor nas pernas e pés.
Um dos grandes problemas da noite foi ver a grande maioria das bandas com egos altamente inflados, vocalistas posers querendo chamar a atenção mais para si que para o som de suas bandas, destaque nesse quesito para o Guns and Roses cover e a banda que não acho a menor graça chamada Killer Klowns (acho que serei apedrejada em praça pública pelos seguidores dos Klowns, que não são poucos).
Triste foi ver a molecada que foi prestigiar os shows e que acho que não entendeu a proposta da “roda punk” usá-la para machucar de verdade quem adentrasse sua circunferência, sem contar na cerveja para o alto, latas e pedras de gelo arremessadas. Tsc-tsc, pobres garotos tolos com atitudes falsas e inpensadas rock and roll. Como já disse muito bem mestre Canibal a frente de sua banda “Devotos” (que não veio a esse festival):
“Se entrar com maldade
Melhor nem entrar
A roda é da paz
E não queremos brigar...”
O que ficou de mais importante pra mim nesse festival foi uma conversa muito legal entre namorado e eu, sentadinhos enquanto a banda Dillinger mandava ver no punk rock (pena que a banda era muito poser). Falávamos de estarmos nos achando meio cansados para eventos como esses: longos, enrolados, massantes, cheio de estrelinhas do rock ... cada um de nós com bagagem de shows internacionais: eu com um Phillips Monsters of Rock (estádio do Pacaembú, SP)em 1995, 12 horas de rock que contou entre outras bandas com: Megadeth, Faith No More, Alice Cooper e Ozzy Osbourne. E em 2004 com Linkin Park (estádio do Morumbi, SP). Ele com um Iron Maiden recente nas costas... ambos com histórias de fome, sede, cansaço, chuva e frio no currículo, em que percebemos que o melhor lugar pra curtir nossas bandas amadas quando o evento é desse porte é em casa, de camarote vip all inclusive, na comodidade do nosso sofá, pegando os melhores ângulos da banda, voltando a canção preferida quantas vezes quisermos, pausando o show para irmos rapidinho ao banheiro ou buscar mais uma cerveja na geladeira, não se preocupando com nossa segurança ou se bebemos demais e como vamos fazer quando recomeçar o empurra - empurra, o aperta aqui - aperta ali.
Enfim, conforto é tudo, e confesso já estar meio velha, cansada e sem paciência para grandes aglomerações nacionais ou internacionais, especialmente aquelas que duram 12 horas ou mais, ou que tenham 8 bandas para tocar numa só noite, porque ter que esperar bandas que você não está afim até a sua preferida começar a tocar, é dose. Ok, o evento aqui em Uberlândia foi um fio de azeite comparado à salada dos mega shows que já vi por aí nesses meus 34 anos, mas confesso, hoje, busco coisas mais organizadas, rápidas e menos tumultuadas para essa minha estrada rock and roll! É legal ir prestigiar um Titãs ali, um Dead Fish de lá, um Sepultura acolá, todos ao mesmo tempo é que tem fundido minha cabeça, meu cérebro não processa, meu corpo não reage!
E o mais gostoso de tudo foi chegar em casa, encontrar meu filho ainda acordado esperando por mim, tirar o velho All Star de guerra, enchermos a sala de colchões e dormirmos todos juntos deixando a brisa dominical invadir nosso lar.

Por Alessandra Ramos Massensini.