Leka e Kaverna

Thursday, February 26, 2009

Triângulo

Andréia entrou cedinho no banheiro com aquele seu ar sempre doce de todo santo dia. Cláudio permanecia deitado sob os lençóis, indiferente àquela manhã ensolarada de domingo. Dane-se a “porra” da manhã de domingo, dane-se tudo, dane-se a Andréia. Deixou os pensamentos subirem, sumirem...
Dois anos de namoro e sempre fiéis, sempre juntos, sempre unidos nas tristezas e alegrias, nos apertos financeiros. E agora então que ele havia saído há seis meses da casa da mãe para conquistar sua tão sonhada independência, Andréia dava a maior força. Ajudava a fazer as compras do mês para que na lista do supermercado não entrasse apenas miojo, salsicha e cerveja, ensinava o namorado a cozinhar e até realizava um ou outro afazer doméstico para agradá-lo.
Andréia era a caçula entre quatro irmãos, haviam perdido a mãe há três anos, o pai morreu quando ela ainda era um bebê. Trabalhava como recepcionista num consultório psiquiátrico durante o dia e à noite fazia a faculdade de Pedagogia. Coitada, sempre apressada, mal via o namorado durante a semana. Mas, quando chegava a sexta-feira, ele a esperava na saída da aula, depois de ter jogado uma pelada com os amigos da loja de materiais de construção, após o trabalho, numa quadra ali perto, e ao final terem bebido umas geladas no boteco do seu Zé. Tomavam dois ônibus para irem a casa dele. E lá chegando, a Babilônia se construía, com seus jardins suspensos e tudo. Faziam amor tantas vezes, em tantos lugares diferentes e na preguiça e desejo de seus corpos, comiam pães de queijo amanhecidos, sabor paixão, escutando os cds de hip hop dele, que ela estava aprendendo a gostar e a cantar. E tudo só acabava quando, no domingo à noite, Cláudio deixava Andréia no ponto de ônibus com um beijo demorado.
Tudo tão perfeito! Não brigavam nunca, não davam motivos para ciúmes, falavam em casamento, mas para quando ela se formasse, arranjasse um emprego melhor, saísse daquele consultório de doidos, como Cláudio sempre falava. Queriam dois filhos, um casal, mas que fosse feita a vontade de Deus.
Teve aquele dia, há quatro meses, que Andréia ligou para Cláudio do serviço:
_ Benzinho, vou falar bem rapidinho porque estou atarefada. Tenho uma novidade: meu irmão comprou uma máquina de lavar roupas e como não vamos mais usar o tanquinho, ele pediu pra eu lhe emprestar até você comprar um.
Ah, um tanquinho de lavar roupas, maravilha moderna. Tudo bem, o tal é até barato, mas Cláudio estava gastando quase todo o seu dinheiro com as prestações da casa que morava. E um tanquinho, não precisar mais ficar esfregando roupa com escova, por de molho. Bastava por no tanquinho, bater brancas e coloridas separadas, fechar o ralo do tanque, passar em três águas, no último enxágüe por uma tampa de amaciante. Pronto. Apaixonou-se pelo tanquinho.
Não via a hora de chegar em casa, arrancar a roupa suja e vê-la batendo no novo brinquedo. Batendo, batendo, espumando, espumando, gozando. Houve dias em que não havendo roupa suja para ser lavada, ele retirou roupas limpas do armário só para ter o prazer de lavá-las. Adquiriu o estranho hábito de lavar roupas completamente nu. E ao dormir, sonhava com o tanquinho que apelidou de Espumante. Até mudou seu jeito com Andréia nos fins de semana, estava indiferente, ela sempre bem-humorada, percebeu, mas achava que era o estresse causado pela situação financeira sempre difícil, mas, ela tinha a certeza que logo tudo passaria. Não passou.
A pobre moça chegou a pensar que era porque ela insistia em adiar essa história de casamento e filhos para depois da formatura. Transavam ainda, mas o que ela não sabia era que Cláudio só tinha ereção porque pensava em Espumante. Certa vez ele teve um acesso de ira ao acordar e presenciar a namorada lavando roupa. Deu-lhe um empurrão que a moça foi parar em outro cômodo da casa. Ela chorou. Ele a abraçou, disse que nunca mais, que andava nervoso com a falta de grana. Ela, sempre boa, ofereceu dinheiro emprestado, atrasaria a prestação do computador. Ele recusou, claro. E os dias passando...
Mas ali, naquela ensolarada manhã de domingo, estava ele, deitado sob os lençóis, enquanto ela, sempre doce, sempre bem-humorada, sempre boa ainda estava no banheiro. Ele matutava uma forma de terminar o relacionamento com a namorada sem perder Espumante. E se ele a comprasse? E se fugisse com ela? E se Andréia morresse? E se... mas, de repente a porta do banheiro se abre e surge Andréia, sempre doce, sempre bem-humorada, sempre boa, só que dessa vez com os olhos marejados de lágrimas e um sorriso misterioso, mágico, que só as mulheres têm. Cláudio, indiferente a olha. Ela caminha até ele, pára, sorri suspirando, lhe estende a mão e lhe entrega o resultado do teste de gravidez de farmácia que acabara de fazer.

Tuesday, February 24, 2009

Scrap de um grande amigo...

"Sabe que ontem eu assisti uma entrevista na TV de uma professora de teatro que me deixou super orgulhoso, foi muito bom ver difundido o trabalho que ela faz em um dos NAICAS da Prefeitura... e ver as crianças trabalhando e fazendo do teatro a sua forma de expressão, foi o máximo...!
Quando eu encontrar essa professora, quero abraçá-la e mais uma vez lhe dizer que o trabalho dela é revolucionário e está plantando frutos sem precedentes de tão valiosos, e que o Deus do Teatro, o poderoso Dionísio a proteja e ilumine nesta missão.

=]"

E essa professora de quem ele fala, sou eu!!! Valeu, meu grande amigo Eduardo...

Tuesday, February 10, 2009

Insônia



Maldita insônia
1h23 da manhã
Respiro fundo, reviro, conto
E essa angústia que não sai
Prenúncio de algo?

Água, banheiro, janela aberta,
mas não há vento.
Então ouço...
O automóvel que tenta pegar lá embaixo
Os gatos no cio
Alguém que revira na cama no apartamento de cima
Minha angústia
O que está acontecendo?

Penso em sexo
Uso a mão e conto: 1,2,3,4,5,6 vezes...
Sem pensar em nada, sem pensar em quem
E o sono não chega
E a angústia não sai
O que está acontecendo?

Ouço...
A coruja ao longe
Os cães que distantes se falam
Sinto calor, mais nada
E na cama, estatelada
Nem dormindo, nem acordada
Só essa sensação ruim
Esse nó no peito
Esse aperto na alma
Por quê?

2h13 da manhã
Água...
Sento na cama
Acendo a luz
Papel e caneta
Olhos vermelhos
Angústia.
Consigo ver luzes lá fora
Dou dois espirros
Escuto um apito, um automóvel que passa, um cão
E essa dor de algo que não sei?
Insônia e angústia
Medo!