A primeira noite do espetáculo adulto do grupo do Rio de Janeiro “Os Tapetes Contadores de História” chamado 3 Horizontes, em Uberlândia, aconteceu no dia 11/03/2011. Baseado em contos de Marguerite Yourcenar, três atores/narradores e uma violoncelista/atriz/narradora dividiram o palco do TEATRO RONDON PACHECO em três narrativas que tinham como link entre elas um caminho trágico que levava à temática da morte.
A primeira história era sobre uma mulher cujo amante morto fora também o assassino de seu marido, e esta vivia entre o desejo e a culpa. Na segunda história, uma mulher presa e “concretada” viva, não abria mão do seu direito de ser mãe, de amamentar o filho até que seu seio secasse. E na terceira narrativa, um pintor chinês acaba integrando-se a sua obra de arte.
Apesar do espetáculo iniciar com um clima instigante aos sentidos, instaurado por música de violoncelo, gelo seco e três atores sentados no palco, vestidos em tons de vermelho, numa espécie de transe, enquanto adentrávamos o teatro e nos acomodávamos nas poltronas, existem vários elementos que não contemplam esteticamente a peça.
O trabalho corporal e vocal de ator ficou a desejar (por talvez esse não ser o foco do grupo), inclusive houve incômodo com o sotaque carioca extremamente carregado do ator Cadu Cinelle. A falta de força e verdade cênica de alguns personagens, como o Imperador da última narrativa decepcionou imensamente por não se ver na atriz um imperador e nem o desejo de fazê-lo. Houve um cansaço generalizado com as narrativas sempre num andamento lento, causando desconforto nas pessoas que não paravam de se mexer e mudar de posição, promovendo um ranger constante das poltronas. E principalmente, a forma ilustrativa/representativa de como o grupo contava as histórias, tropeçando no caricato muitas vezes, não agradou o público. Mas, se o espetáculo foi vencedor do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz, alguma coisa especial ele tem.
Embora não tenha caído no gosto da plateia, encontra-se no trabalho assistido algumas características poéticas: beleza nas imagens que se formam, a simbologia das cores que nos afeta e a ressignificação dos objetos que mexem com a imaginação. É interessante como a luz penetra o espetáculo, hora manchando tudo de vermelho (paixão/pecado/sangue), hora em pequenos focos, dando uma importância íntima e pessoal àquele acontecimento narrado. Os silêncios instaurados em alguns momentos são fortes, porque dão a impressão de reflexão profunda do personagem e de cada espectador presente. Deixar-se afetar por esse universo de cores e significados, em muitos momentos, nos faz esquecer de prestar atenção ao texto das histórias e mergulhar nessa beleza plástica que toma conta do palco, aliás, muito bem distribuído e utilizado.
Talvez não devêssemos ver o espetáculo 3 Horizontes como uma peça teatral, mas sim como um momento de ouvir uma contação de histórias, método já tão ultrapassado nesse momento em que teatro quase não tem texto e muitas vezes assistimos apenas corpos e suas potencialidades. Dessa forma, o que deixou a desejar esteticamente se compensa com a sinestesia de cores, sentidos, significados, sabores, dança e música presentes nas narrativas. Nesse sentido, o “demonstrar o que se diz”, a grande crítica negativa entre o público em relação à peça, ganhou qualidade. E provavelmente aí sim, encontramos a explicação para o trabalho ter sido prestigiado com um prêmio cultural.