Leka e Kaverna

Sunday, September 23, 2012

RIO: entre erros e acertos


Rio (2011) já começa empolgante! Impossível não mexer uma parte do corpo quando Real In Rio invade a tela e a passarada se deleita com o samba na mata. Também há encanto de cara com a ararinha azul bebê de grandes olhos que remexe as penas no ritmo da folia. Mas, de repente, PAM!, aves aprisionadas por contrabandistas, retiradas de seu habitat natural e enviadas ao frio do exterior.

E embora seja nesse clima que a pequena ararinha azul crescerá, seu coração será aquecido pelo amor que lhe é ofertado por sua dona Linda. Jeito de CDF, Linda é dona de uma pequena livraria onde passa o tempo com Blu, o nome recebido pela arara, que a essa altura já é jovem, robusta, intelectual e um pássaro que vive uma vida tranquila e normal, exceto pelo fato de não ter aprendido a voar.

As vidas dos dois personagens mudam quando Túlio, um jovem e atrapalhado biólogo, especialista em aves, aparece propondo a Linda um cruzamento de sua ave com uma fêmea chamada Jade na tentativa de salvar a espécie da extinção. Linda reluta no início, mas acaba aceitando a proposta que ela julga ser a “opção certa” e embarcam para o Brasil.

Logo o trio chega ao Rio de Janeiro, em pleno CARNAVAL, no “Rio 40 GRAUS, cidade maravilha, purgatório da beleza e do caos” como bem cantou Fernanda Abreu. As imagens da cidade são tão bem feitas e reais: Pão de Açúcar, Cristo Redentor, Arcos da Lapa, Praia de Copacabana, que deixam qualquer um de boca aberta. Mas, em minha opinião, o diretor Carlos Saldanha pecou ao estereotipar a população de Rio em sua nova animação.

Na cidade maravilhosa as pessoas só pensam/querem/vivem Carnaval, futebol e samba, tornando-se até figuras “idiotizadas”, como a dentista que cruza a rua da praia vestida como se estivesse prestes a desfilar numa escola de samba, o sério segurança do aviário que espera até estar sozinho no trabalho para ficar mais à vontade arrancando seu usual uniforme e ficando apenas com um top e sunga brilhantes, e até mesmo os dois trapalhões contrabandistas que se caracterizam como estúpidas galinhas para adentrarem a Marquês de Sapucaí. Uma questão que incomoda é: por que será que o grande vilão da história, o contrabandista chefe tinha que ser exatamente um negro do cabelo sarará? Por que o negro não poderia ser o biólogo? E o biólogo branco, por que este não poderia ter sido o contrabandista?

Creio que o problema de Rio também esteja no fato de se estereotipar o comportamento das pessoas, seus habitantes não faziam mais nada a não ser ficarem vidrados no futebol e caírem no samba o dia inteiro. O filme reforçou ao mundo o que o mundo já acredita que seja o Brasil: bunda de fora, festa, bola e favela.

Entretanto, o filme tem sim muitos aspectos positivos, a começar pelos animais que dão um show e estão brilhantes: do casal de araras, passando por todas as outras aves, o cachorro babão e os espertos macacos espiões. Além do mais, a trilha sonora é perfeita, uma pena não ter ganhado o OSCAR 2012 na categoria que disputou. E os cartões postais do Rio de Janeiro também estão muito bem desenhados e convidativos. Aprovo também, embora seja clichê, a mudança de comportamento do garoto da favela, que inicialmente ajuda no rapto do casal de araras, mas, arrepende-se de seu ato e busca consertá-lo, sendo premiado ao final do filme com um futuro melhor. E todos esses acertos valem cada minuto do filme!