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Friday, November 25, 2011
Em-cômodos
E quando restamos só nós três, a zinha lá começou a reclamar, e do jeito que mais me irrita, como se nós, aqueles três mulherões, fossemos crianças.
“Não pode”, “não tem”, “não funciona”, “ tem escorpião”, “elas acham ruim”...
Ah, me poupe...
As múmias adormecidas compõem tão bem aquele lugar fétido que se sentem as donas de lá.
Não adianta, nós conseguimos o direito de usufruir o mesmo espaço.
Também estamos trabalhando, e muito duro.
Elas ficam lá, todos os anos que acumularam, lá, fazendo a mesma coisa, a mesma rotina, tudo igual todo dia.
E nós chegamos: os subversivos, os loucos, os artistas...
“Uai, mas teatro não é quando tem uma história de bonzinhos e maldosos como na novela?”
“Não tem sofá?”
Não, nós não temos sofá, temos só areia.
Sim, nos sujamos, assumimos formas grotescas, modificamos nossas vozes.
Nem cabelo temos...
Temos poros, entupidos de areia, mas que respiram e enxergam e escutam e cheiram e tocam.
Incomodamos as múmias em seus cômodos secretos enquanto nos acomodamos em nosso cômodo ressignificado.
Em cômodos todos passamos uma manhã de sexta-feira.
E descobrimos que a diferença entre elas, tão arrumadas, sérias e nós, os sujos, os atores, é a cordialidade.
Mesmo com seus ferrões aparecendo, lhes desejamos um bom dia e nos despedimos.
Quem respondeu aos nossos “tchaus”?
Creio que se está incomodando é porque está funcionando!