Leka e Kaverna

Monday, July 12, 2010

Baratas



Esta história tem uns bons anos que foi escrita...
Baratas... isso lá é assunto para se escrever? Longe de mim frescura. Não tenho medo ou nojo das bichinhas, para mim não fedem ou cheiram, simplesmente existem. E senti-me muito inspirada em escrever sobre o animalzinho em questão após ter lido duas crônicas do mestre Drummond sobre o espécime. E mais inspirada ainda quando em seguida fui à cozinha beber água e eis que me deparo com um representante da classe em cima da pia, vivinha da silva, passeando tranquilamente pelo inox.
Que fiz? Bem, armei-me do detergente próximo e despejei boa quantidade do mesmo sobre ela que entrou em desespero e ficou esperneando até ter sua vida aniquilada. Eu, uma assassina... matei uma barata! (Não sei qual o efeito do detergente sobre seu corpo, mas ela morreu...)
Pensar que eu quando menina lá no Pará pegava caixinhas de fósforos e promovia o enterro de todas as baratas que amanheciam mortas pela casa. O despacho funesto dava-se nos canteiros de hortaliças de meu pai com direito a uma oração de descanse em paz, na companhia dos amiguinhos mais chegados.
Sinistro mesmo foi o que fiz com uma amiga que tinha pavor de barata quando fazíamos o Ensino Médio. A professora de Geografia (querida Delma) havia pedido a leitura prévia de um dos capítulos do “amado” livro didático para a sua aula... eu passava todo dia na casa dessa amiga antes da escola para irmos juntas, então...
Quando acordei na manhã desse dia, deparei-me com uma baratona morta no corredor da minha casa, logo, sabendo que minha amiga não pode ver uma, tive uma ideia supimpa...
Na casa de Carla, minha amiga, sem que ela visse, meti o defunto da temida dentro de seu livro de Geografia, mais precisamente entre as páginas que seriam consultadas nesse dia.
Na aula, quando a querida tia Delma pediu-nos para abrirmos o livro na página tal, Carla solta um grito, deixando livro e barata caírem ao chão. Escutou-se um:
_ Credo, que menina “véa” porca! – vindo de um garoto.
A professora ficou muito aborrecida e disse que tinha certeza que isso era trabalho de um engraçadinho... Só via o olhar reprovador de minha amiga para mim, que sabia que eu era a engraçadinha, mas não me delatou: amizade acima de tudo – apesar de eu estar me segurando para não rir na hora.
Último ano de faculdade e um trabalho individual da disciplina “Conversação em Língua Inglesa” para apresentar... adivinhem qual foi o assunto escolhido por mim para falar em meu trabalho? “Yes, my dears, cockroachs!” Graças a uma SUPERINTERESSANTE da época, preparei meu trabalho com muita dedicação, com direito a uma cena do cômico “Joe e as Baratas” e dois espécimes vivos capturados por mim em um vidro de maionese vazio para o terror de meus colegas de classe.
Detalhe é que antes de sair para a faculdade, por causa de meu nervosismo e ansiedade pela apresentação, me deu uma dor de barriga repentina e dos diabos, corri para a privada... eca!!! Quando ia deixando o banheiro, escorreguei, bati a cabeça no vaso e por alguns instantes não sabia quem era, onde estava... até que meu filho, pequeno na época, se aproximou e questionou-me:
_ Mamãe, que você “tá” fazendo deitada aí?
É, já ia lhe dando uma resposta cretina para sua pergunta imbecil, mas me contive...
A verdade é que minha apresentação foi um sucesso! E o povo da minha sala horrorizava a cada informação que eu dava:
_ Aborígines e outras tribos da África comem o líquido branco de dentro das baratas. Mesmo depois de mortas, os ovos das baratas ainda sobrevivem dando origem a mais barata. Uma barata vive em média 150 dias e fica grávida 8 vezes nesse período. Em São Paulo existem 200 baratas para cada indivíduo. As baratas vivem em nosso planeta há milhões de anos, apareceram antes dos dinossauros, sobreviveram a sua extinção enfurnadas em buracos e ainda se alimentaram dos restos mortais desses gigantes.
Provavelmente um dia nossa espécie desaparecerá e essas danadinhas assistirão nossa extinção de camarote, rindo de nossa fragilidade... sim, porque de frágil, barata não tem nada... Ok, eu matei essa zinha que passeava pela pia, mas... quantos descendentes ela deixou? E eu, quantos deixarei?