Leka e Kaverna

Wednesday, December 02, 2009

Público Acadêmico no Espeto

Quando fui assistir à peça “Biriba no Espeto” do grupo Circo Teatro Biriba de Santa Catarina, no último dia 19/11, dentro dos eventos do “Segundo Encontro de Artes Cênicas do Cerrado”, às 20h, UFU Santa Mônica, sala 3M do Bloco de Teatro, numa proposta de palco italiano, deparei-me com um sofá (e objetos que formavam uma sala de estar) e confesso que esses elementos me incomodaram logo de início, uma vez que vinha a minha mente a idéia de um espetáculo realista. E espetáculos realistas já não conseguem prender minha atenção.
O tal objeto não deixou dúvidas, e mais, tive a impressão de estar assistindo algo tão ruim e sem graça quanto ao programa dominical “Turma do Didi” da Rede Globo de televisão: piadas chatas, gagues ultrapassadas, riso gratuito e atores de péssima qualidade.
O espetáculo era uma comédia que mostrava as dificuldades de uma cia teatral e as atitudes desastradas do palhaço Biriba, empregado da mesma, na tentativa de montarem um espetáculo. Era visível que os atores não tinham uma formação em teatro (acadêmica ou cursos especializados), faltava atitude corporal e cênica, a forma de representação era caricatural, artificial, exagerada, assim como os figurinos, maquiagens e canções utilizadas em cena.
A história fraca foi arrastada por quase duas horas, fazendo com que muitas pessoas deixassem a sala antes do término da peça. E a grande maioria presente era o público universitário do curso de Teatro da Universidade Federal de Uberlândia, quem conseguiu ficar até o final não gostou. Claro, estamos numa academia, estudando teatro, aprendendo que teatro é muito mais que um texto decorado, que há toda uma simbologia, ressignificação, poética da cena, trabalho corporal do ator envolvendo-o, e de repente nos barramos com um espetáculo desse nível? Não era para menos.
É sabido que o grupo Circo Teatro Biriba, tem um nome, uma tradição circense de 29 anos de estrada, mas o público acadêmico para o qual apresentaram nessa noite anseia por muito mais que esquetes já conhecidas e desgastadas. O público acadêmico não estava preparado para Biriba e vice-versa.
E o palhaço Biriba percebeu que realmente estava no espeto, sendo assado com seu grupo aquela noite, tanto o é, que aproveitou a tensão que foi instaurada na platéia para jogar com a mesma, dizendo que não estávamos rindo, que não estávamos gostando, que a organização do encontro iria fuzilar o Abílio Tavares (curador) mais tarde, etc. Conversou com os expectadores ao final da apresentação, defendendo-se, falando sobre e do trabalho do grupo.
Como já disse, não gostei do espetáculo, mas, o respeitei, até porque sei que existem vários tipos de teatro, o da academia, o da escola, o da igreja do meu bairro, o da comunidade X, o de circo. E como acadêmica, tenho que ter os parâmetros para julgar um espetáculo, não posso comparar a trupe do Biriba com a magnitude do grupo Galpão (que também se apresentou no encontro com o espetáculo “Till, A Saga de um Herói Torto). Creio que como uma estudante de teatro, eu tenha que respeitar a forma de fazer teatro que cada um acredita e que tenho também que ver muito teatro, de todas as espécies e qualidade para cada vez mais poder formar minha opinião e criticidade.