Assistindo ao FESTIVAL LATINO AMERICANO DE TEATRO, intitulado Ruínas Circulares, que aconteceu na cidade de Uberlândia do dia 05/09 ao dia 20/09 desse ano, encantei-me com duas peças, em particular: Nuestra Señora de Lãs Nubes do grupo Malayerba de Quito-Equador e A Brava da Brava Companhia de São Paulo-Brasil. A poética de ambas me emocionou profundamente e me fizeram pensar muito a respeito do meu papel como atriz, encenadora, dramaturga (que um dia serei).
A respeito da Encenação, Nuestra Señora de Lãs Nubes e A Brava se diferem em muitas coisas, mas se aproximam em outras. Listarei abaixo algumas das constatações a que cheguei após apreciação das mesmas.
NUESTRA SEÑORA DE LAS NUBES: utilizou palco italiano, e carece de uma iluminação para causar certos efeitos, imagina a cena da velha sem aquela luz? A música (som mecânico) tem o intuito de causar a emoção nos atores e em quem assiste. Dois atores fazem vários papéis, prezando as diferentes identidades dos habitantes da cidade e a transformação se dá na frente da platéia. Há quebra da 4º parede na cena dos irmãos falando das garotas, pois as moças da platéia são as inspirações para a cena. O palco é desnudo, cada personagem porta uma mala de onde saem os objetos que vão dar vida a peça, com sua simbologia e ressignificação. O estar longe da terra natal (tema da peça) é mostrado de forma ora dramática ora cômica. Percebe-se algo como os viewpoints no processo de criação, não sei se consciente (provavelmente nem é esse nome que usam para o processo), e ali tinha corpos vivos, dispostos, pulsantes apesar da idade dos atores.
A BRAVA: o espaço utilizado é o aqui/agora da rua, no caso, o estacionamento do Mercado Municipal de nossa cidade. Não há iluminação especial, começou com o fim da tarde daquele domingo e terminou quando já era noite. A música do espetáculo é tocada e cantada ao vivo, serve como explicação dos fatos que se desenrolam e também causa a emoção. Quatro jovens atores fazem os vários papéis da saga de Joana Darc com sua bela atitude de buscar caminhos opostos a padrões pré-determinados pela sociedade. Não há 4º parede, a rua, os sons, as pessoas (inclusive uma vendedora de balas que para no meio do caminho da cena) dão os estímulos para a peça, que tem a participação ativa do público. Uma espécie de palco/palanque móvel e algo como um trono compõe o ambiente da peça, que muda de espaço, os objetos em cena são ressignificados e simbólicos (uma coroa que não consegue ficar na cabeça de um príncipe, insiste em cair, é muito forte) . A história da brava heroína nos é apresentada com um humor anárquico e mistura cultura popular ao pop. Para o processo de criação é visível o estudo/prática de danças/canções populares, circo e cultura pop (alusão a filmes recentes campeões de bilheteria como Senhor dos Anéis, Harry Potter, Piratas do Caribe a até ao desenho mais assistido da década de 80: Caverna do Dragão; rock and roll para as aitudes dos inimigos, intrigante o tal “Rock da Condenação”; coisas que consumimos no dia-a-dia, por exemplo, que delícia escutar um duque se chamar Jhonny Walker Red Label). A energia dos atores era incrível.
Dizer de qual das duas gostei mais é crueldade, mas, talvez pelo contato com o público e pelo tema, A Brava tenha ganhado uns pontos a mais comigo, teatro de rua é realmente uma panacéia...