...mostrando tudo: pâncreas, fígado, pulmões, rins, baço, tripas, útero, coração e até a alma...
Friday, July 17, 2009
Obrigada, Nietzsche...
"...os amantes da verdade não temem águas tempestuosas ou turvas. O que tememos são águas rasas!"
Saturday, July 11, 2009
Afrodites Modernas
Personagens:
Andréia
Carla
Garçom
Boate, um balcão e bancos. Duas mulheres sentadas. A cena inicia-se com a canção “Tudo Pode Mudar” da banda Metrô (depois várias músicas de boate ficarão tocando). Após o refrão:
(Andréia): Ele não vem.
(Carla): Parece mesmo que não vem.
(Andréia): Melhor ir pra casa. Acordo cedo amanhã. Que burra sou, achei mesmo que um cara que conheci à tarde na internet fosse aparecer num encontro real?
(Carla): Não acredito! Mulher, acorda, você acredita nessas “palhaçadas” virtuais?
(Andréia): Acreditei, ele parecia tão sincero, romântico: “sou aquele amante que manda flores, abre a porta do carro”. Hunf, Paulo 36.
(Carla): Esses “Dom Juans” modernos... como me enojam. E você um tanto sonsa, não? Uma vez saí com um cara da net. Júlio 29. Alto. Sarado. Loiro. Olhos verdes. Dragão chinês tatuado no braço, que braço. Que noites ele me propiciou naquele frio mês de julho...
(Andréia): Acabou?
(Carla): Descobri depois que era casado há um ano, tinha uma filha recém-nascida. Tirava a aliança quando estava comigo.
(Andréia): Canalha!
(Carla): Mas eu não me importava nem um pouco. Eu gostava de estar com ele. Seus beijos, seu toque, seu cheiro, seu jeito de me amar, sempre tão homem!
(Andréia): Por isso que eles fazem o que fazem, nós, mulheres, nos permitimos.
(Carla): Qual o seu nome?
(Andréia): Andréia, prazer... Sabe, a verdade é que eu queria que tudo fosse normal.
(Carla): Normal. Mas o que é normal? Casar, ter filhos, ser fiel? Estudar, trabalhar, prosperar, formar uma família e morrer? Acredita em príncipe encantado, Andréia?
Silêncio
(Andréia): Mas há mal há nisso?
(Carla): E que bem? Homem não é o objetivo primordial da minha vida. Não busco alguém. Faço outras coisas, vivo, mas de repente acontece.
(Andréia): Eu busco alguém. Pra dividir sonhos, pra dividir a cama, pra me completar. Mas nem sei mais se quero isso.
(Carla): Completar... completar? Como pode pensar assim? É tão estranho isso, não somos seres completos? Ai, imagino as pessoas andando por aí, faltando pedaços e tentando encontrar o pedaço que falta. Como me aflige... eu sou completa!
(Andréia): Seu nome, por favor?
(Carla): Eu sou Carla. Carla e Andréia, duas mulheres que levaram um fora numa noite de quinta-feira. Juntas, numa boate, num fim de festa, discutindo “homem e cia”, que coisa bela!
(Andréia): Daria um livro.
(Carla): Prefiro um filme ou uma peça de teatro.
Passa o garçom.
(Carla): Garçom, mais uma tequila.
(Andréia): Um coquetel de frutas, por favor.
Silêncio. Carla acende um cigarro. Andréia observa. Retorna o garçom com as bebidas. Serve as moças.
(Carla): Hum, gatinho ele. Se ele quiser, rola! Sabe, eu não busco homens, busco pessoas...
(Andréia): Você é homossexual?
(Carla): (sorrindo) Cada um sabe o que faz.
(Andréia): Não sei se daria conta, acho que nunca faria isso!
(Carla): Cuidado, nunca é muito forte!
(Andréia): Ai, não sei, acho que não!
(Carla): Ah, querida, minhas primeiras experiências amorosas foram com mulheres, eu até gostava, engraçado. Mas, notei que faltava algo, até que uma vez, numa festa, aconteceu.
(Andréia): Aconteceu?
(Carla): De sentir cheiro de homem, da barba de homem roçando meu pescoço. E então nunca mais parei.
(Andréia): Normal.
(Carla): É, “normal”.
(Andréia): Eu me prometi hoje que essa seria minha última tentativa de conhecer alguém bacana, se não desse certo, ah, eu ia virar a maior “femme fatale” desta cidade. Já estou cansada, esses homens sempre nos dando rasteiras, nos destroçam a auto-estima.
(Carla): Certeza. Já teve um cara que eu mal conhecia e que soltou “eu te amo” em nosso primeiro encontro, bem na hora que estávamos na cama... Andréia, um homem é capaz de tudo pra conseguir o que quer...
(Andréia): Malditos sejam!
O garçom passa perto delas.
(Carla): Outra tequila!
(Andréia): Uma soda.
(Carla): Soda?
(Andréia): Eu trabalho amanhã...
(Carla): Nada de soda... traz uma garrafa de tequila.
(Andréia): Está certo.
Carla senta-se no balcão ao lado de Andréia. Chega a tequila. O garçom as serve, brindam. Garçom sai. Trevas. A cena volta a ficar iluminada e a garrafa de tequila já está quase no fim.
(Andréia): Criação. Filha única. Não podia sair nem pra comprar pão sozinha na esquina.
(Carla): Sei bem como é isso, conheço uma moça que foi criada assim também, ela se revoltou. Geralmente quem é educado assim, o dia que ganha a liberdade... acha que é libertinagem!
(Andréia): Não sei se faria isso com meus pais... ai, essa tal de tequila é muito forte...
Enchem seus copos.
(Carla): Um brinde à amizade que começou hoje!
(Andréia): Tim-tim! (viajando em lembranças) Eu já tive um noivo! Namoramos três anos. Daí ele recebeu uma proposta pra trabalhar na França e me pediu que fosse com ele. Não fui. Não podia deixar minhas coisas aqui, meu trabalho, sou dentista. Daí ele foi... e um belo dia descobri via orkut que ele estava namorando uma francesa. Ele nem chegou a terminar comigo oficialmente.
(Carla): Acho que você fez bem em não ter ido... a gente não pode largar nada por ninguém. (cantando) “Eu não abro mão nem por você nem por ninguém, não me desfaço dos meus planos, quero saber bem mais que os meus 20 e poucos anos”.
(Andréia): É... não abro mão... (e vira o copo)
(Carla): Ponto positivo pra você. Olha, mas vou lhe confessar, nem sempre fui assim não, já esperei o amor da minha vida, esperei, esperei, e um dia o moço apareceu: “chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado.” Chegou metendo a mão na maçaneta da minha vida e foi entrando sem pedir licença. /e por um tempo achei que era feliz, pois na verdade não era. Era um relacionamento em que só eu doava, não havia troca, então me senti sugada. Mas quando notei isso, não hesitei, eu o expulsei da minha vida e jurei que seria diferente. E foi. Escuta, temos as agulhas e a linha em nossas mãos, nós tecemos nossa vida, estamos no controle.
(Andréia): Foi bom escutar tudo isso... vou ao banheiro e quando voltar, vamos dançar?
(Carla): Sim, vamos.
Andréia sai. De repente começa a tocar “Uma Louca Tempestade”, da cantora Ana Carolina. Carla começa a cantar. Volta Andréia que dá um show de sensualidade cantando a canção e dançando com Carla. Quando a música está quase no final, Andréia puxa Carla e olhando bem nos olhos da moça, sorri e lhe beija ardentemente. Carla e o garçom que mais uma vez por ali passava, ficam boquiabertos. Sem palavras. Continua a beijar Carla deslizando a mão até seu sexo, mas constata uma surpresa...
(Andréia): O quê? Homem? Você é homem? (Para o garçom) Meu Deus, ela é um homem, eu beijei um travesti! (Fica meio alucinada) Um homem! Um travesti! Não acredito! Um ótimo jeito para começar a minha vida de “femme fatale”! (E começa a rir freneticamente, os outros dois ficam em silêncio observando-a até que rindo ainda como louca sai de cena).
FIM.
(Escrito by Leka Massensini)
Thursday, July 02, 2009
José
Um salão de festas pós-festa de aniversário (à fantasia), muita sujeira e bebida espalhada, silêncio profundo. José, fantasiado de Pierrot, está sentado em uma cadeira no centro, sozinho, tem um copo de uísque vazio na mão direita, está bêbado e reflexivo.
Nada. Nada restou. Acabou a “porra” da bebida. E a merda do cigarro. Ah, e os calhordas vieram todos, todos! Beberam, comeram, se pegaram pelos cantos escuros, se “empanzinaram” e foram embora. Hipócrita de mim que os convidei, uns falsos que me parabenizaram, trouxeram presentes e elogiaram a festa. E Dulcinéia... Dulcinéia não veio. Cara, mas como sou idiota, achei mesmo que ela viria? Burro! Ela não veio. E se não a tenho mais, por quem serei um cavaleiro andante que cavalga com o peito ardente? “O sonho acabou”, já disseram antes. A-CA-BOU! Foi embora. Fugiu, escafedeu-se! Sempre soube que acabaria no buraco com essa mulher, alertaram-me os calhordas, os filhos e até a ex-mulher... mas quis me deixar cair mesmo assim, pra ver a profundidade do “caralho” do buraco. “Puta” buracão! “Puta” consumista! Ela só ligava para o dinheiro e para o filho da mãe do Sid. Maldito labrador do inferno! Que Cérbero lhe dilacere a carne podre após a sua morte! Quantos mil reais essa cadela gastou no último aniversário dele? Era o meu dinheiro, meu dinheiro! E hoje no meu, nem um telefonema sequer. Se ela soubesse que já senti vontade de envenenar Sid. Ele com tanto, eu com nada. Algo como: Clodovil morreu e seus pobres cãezinhos de estimação vão para Paris morar com um amigo querido do falecido versus o pobre cão de rua acorrentado e privado de água e comida por um artista (tenho minhas dúvidas) numa dessas Bienais de Arte por aí. Quem vai ganhar a atenção de Dulcinéia? Façam suas apostas! (grande silêncio) Eu sou o cão morto dessa Bienal! Já Sid... (silêncio)
Eu preciso esquecer. Acho que vou para Minas por uns dias. Ah, velha Minas, que saudades das brincadeiras de quintal, dos primeiros beijos atrás do coreto, dos bailes sextas à noite no Café Moreira, das tardes conhecendo Shakespeare na biblioteca, do sorvete de passas... Ô saudade danada! (silêncio) Mas isso não há mais para mim, acabou! Assim como acabou essa festa de aniversário ridícula que fiz. E assim como acabou meu uísque, meu cigarro, Minas se foi, é outra agora, viva o progresso capitalista! Acabou aquela que eu amava. Igual acabou Dulcinéia. (silêncio) Estou velho e sozinho.
E eu? Quando vou acabar? Quase acabei aquela vez, mas esse coração de ferro mineiro é muito forte ainda, hihihi, eita nós! E apesar desse corpo cansado e desse cabelo prata, o trem de ferro cruza minha aorta e nada o detém! (silêncio) Quer dizer, o trem bala pode, ah, ele me faz ser lento... o trem Dulcinéia, com tantas viagens, tantos convites, tantas festas, o trem bala voa, e eu, sempre o trem de ferro mineiro. (silêncio) Acho que já estou acabado!
E agora, o que eu faço? O quê? (cantarola) “O Pierrot apaixonado chora pelo amor da colombina, e é sua sina chorar por alguém...” (silêncio) É, vou comprar cigarros! (Sai)
(Monólogo escrito by Leka)
São Paulo
São Paulo (banda Invasores de Cérebro)
"Nós somos da cidade de São Paulo
Aode o Punk é pra valer
Aonde você vai morrer, onde a noite é das gangs
Nas esquinas das quebradas, nos bailes da cidade, nos clubes da pesada
SP, onde o Punk é pra valer
Em SP tudo pode acontecer
Em SP, onde você vai morrer, vai morrer, vai morrer
Isso é porque nós somos da cidade de São Paulo
Aode o Punk é pra valer
Aonde você vai morrer, onde a noite é das gangs
Nas esquinas das quebradas, nos bailes da cidade, nos clubes da pesada
SP, onde o Punk é pra valer
Em SP tudo pode acontecer
Em SP, onde você vai morrer, vai morrer, vai morrer
São Paulo, cidade perigosa
São Paulo, cidade violenta
Vejam bem ao andar nas ruas de São Paulo
Mas muito cuidado ao andar por ruas e calçadas
Vocês podem ter uma grande surpresa..."
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