O presente preferido foi dado por ele: a bonequinha manca que sorri segurando a placa com a frase mágica. Provavelmente ele chegou, viu, gostou e escolheu, com certeza não teve o olho clínico analista detalhista que nós mulheres lançamos a tudo que nos importa e não importa. E por isso mesmo, o presente é o meu preferido, escolhido espontaneamente. Ele nem percebeu que a bonequinha tinha um defeito. E por isso mesmo, eu gostei. Por isso mesmo. Gostei da sua imperfeição e sua plaquinha com a frase, a tal frase, a tal que muitos almejam, outros desprezam, e que é a mais importante e a que dá medo. A que muda tudo...
Talvez ele saiba que sou essa boneca cocha que ainda sorri apesar dos invernos castigantes das últimas décadas. A boneca que também castigada, levanta a plaquinha da esperança aos transeuntes, esperando a moeda da verdade.
Talvez ele tenha me presenteado com a bonequinha manqueba porque também saiba que é um anjo torto de asas esgarçadas, que sabe que “se chamasse Raimundo seria uma rima e não uma solução”...
E agora, aqui, neste quarto doente, eu me olho nela, boneca-espelho, e penso nele. Fico cá, ele lá, seres imperfeitos e com a nossa saudade perfeita.
(By Leka)