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Tuesday, March 04, 2008
Funeral
Ali, naquela escura sala da velha igreja jazia o corpo frio, sofrido e esquálido dele. A única pessoa que realmente se importava com ela... Por que ele a deixou assim? Ela fechou os olhos e recordou-se da casa no campo, do balanço de pneu na árvore, dos piqueniques no gramado, dos passeios na garupa da velha bicicleta, do cheiro de peixe fritinho quando ele voltava das pescarias. Começou a chorar convulsivamente, foi até o caixão, beijou ternamente sua testa, depositou flores: narcisos, as preferidas dele, ao lado de seu corpo e saiu correndo dali...
Pegou a estrada de terra e seguiu sem rumo... não sobreviveria a morte do avô querido.
(Alessandra Ramos Massensini)
Antônio
Antônio, cansado daquela vidinha medíocre que levava na pacata cidade de Minaçu, resolveu mudar-se para Goiânia. Fazia um ano que Sâmara havia lhe trocado por outro, estava na hora de recomeçar sua vida, parar de sofrer, parar de beber e fumar enlouquecidamente, esquecer aquela, aquela vaca!
Sozinho em casa, escutando Roberto Carlos, barba por fazer, acendeu mais um Free, abasteceu o copo com mais uma dose de Johnny Walker, caminhou até a janela e pôs-se a fitar o jardim... Jardim esse que já fora o mais belo da vizinhança, tanto verde, tantas flores, e agora estava ali, morto, frio, entregue ao nada, assim como seu coração.
De repente surge a figura de Shrek, seu gato persa de estimação, manhoso, lento, rechonchudo, lindo gato, presente da ex: Sâmara, pelo antepenúltimo aniversário. Às vezes sentia que ela amava mais o bichano que a ele. Aliás, amava o bichano. A ele não. Que ódio sentiu. Maldita, vagabunda, vaca!
Então, um terrível pensamento assombrou-lhe a idéia... e Antônio não hesitou... foi até a cozinha, armou-se de uma faca Ginsu 2000 que havia comprado através do canal de compras da TV anos atrás. Caminhou lentamente até o jardim, sorriu sarcástico e chamou musicalmente por Shrek que veio se esfregar em suas pernas...
(Alessandra Ramos Massensini)
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