Leka e Kaverna

Saturday, October 16, 2010

Para refletir...

TEXTO MUITO INTERESSANTE PARA REFLETIR SOBRE AS ELEIÇÕES 2010.


Para além da Casa Grande e da Senzala.

Há quatro anos trabalho em um campus da Universidade Federal de Sergipe que faz parte do programa de expansão do Governo Federal em Itabaiana localizado no agreste sergipano. Nestes últimos oito anos foram criados cerca 130 novos campi de Universidades Federais em todo o Brasil. Em quase sua totalidade, esses novos campi foram implantados em cidades do interior do país.

Hoje o Campus de Itabaiana da Universidade Federal de Sergipe possui 100 professores efetivos. Esse corpo docente é formado,
majoritariamente por professores doutores. Os mestres representam uma outra parte significativa dos professores. Pouquíssimos são apenas graduados. Pode-se dividir esse grupo de profissionais entre os mais jovens, recém doutores e mestres, e doutores e mestres que há mais de uma década trabalhavam na iniciativa privada. Enquadro-me entre esses últimos. Por 16 anos trabalhei em instituições privadas de ensino superior. O motivo principal que me levou a participar dos cursos públicos para docente nas Universidades Federais foi o fato das instituições privadas terem começado um processo sistemático de demissão de doutores. Esse quadro negava, e ainda nega, o princípio básico de que se deve estimular a qualificaç ão profissional, no caso o doutoramento...

O campus de Itabaiana conta atualmente com aproximadamente 2500 estudantes e em agosto de 2010 formamos as primeiras turmas de seus cursos de graduação. É importante que se diga, FORMAMOS as primeiras turmas. Muitos desses alunos passaram pelos programas de Iniciação Científica, Extensão e Monitoria da UFS. Espera-se, com isso, ir muito além de um simples diploma de curso superior. Para se ter uma idéia da importância desse feito, em 2000 praticamente 50% da população rural do Estado de Sergipe era formada por analfabetos funcionais e mais de 70% dos pais dos alunos que ingressaram no Campus de Itabaiana em 2006 eram analfabetos.

Tenho esperança de que a presença da Universidade Federal de Sergipe em Itabaiana contribua, em médio e longo prazo, para aumento significativo do nível de especialização e capacitação da mão-de-obra mas também, para a diminuição do número de homicídios, da violência contra a mulher e contra a criança e para o desenvolvimento e consolidação de uma cultura democrática na região do agreste sergipano.

Devo ressaltar que os investimentos públicos para a implantação do campus de Itabaiana, cerca de 10 milhões de reais, tem sido objeto de intensa e rigorosa fiscalização do próprio governo federal por meio da Controladoria Geral da União (CGU) e de órgãos externos, como o Tribunal de Contas da União (TCU).

Como diretor do Campus, tenho um número de celular e um cartão corporativo. O primeiro utilizo para contatos profissionais e o
segundo para gastos emergências essenciais para a manutenção do campus. Minha conta limite do celular é de 100 reais e quando ultrapasso esse valor pago a diferença diretamente na conta da união. O uso do cartão corporativo é ainda mais restritivo. Os 1.600 reais que o campus dispõe (800 para compras e 800 para serviços) seriam impossíveis de serem usados em razão das restrições legais se não tivesse uma equipe formada por um contador e um administrador trabalhando em conjunto na gestão desses gastos.

Esses detalhes são importantes para oferecer um contraponto em relação à idéia generalizada a respeito da corrupção do governo federal. Nenhum ato de corrupção ou de desvio de dinheiro público é justificável, mas fico me perguntando o que seria de todos esses investimentos do governo federal na educação superior nos últimos 8 anos sem que esses mecanismos de controle, parte deles do próprio governo federal, não existissem. Ou seja, esse mesmo governo que é acusado de corrupto foi que o intensificou a atuação de órgãos de fiscalização. Com base em minha experiência pessoal posso dizer que os investimentos públicos federais tem sido acompanhado pelos necessários, ainda que falíveis e insuficientes, mecanismos de controle e fiscalização.

Relato essa experiência porque sei que muitas pessoas para quais enviarei esse texto não conhecem de perto a realidade que hoje eu vivo. Muitos dos meus ex-alunos e colegas de trabalho de São José do Rio Preto, Catanduva, Fernandópolis, Mirassol e Pereira Barreto no interior do Estado São Paulo tem acesso a realidade do nordeste brasileiro apenas por meio da imprensa ou em viagens de turismo. Por outro lado, percebo um desejo e uma tendência de negar o fato que o Brasil é desigual por motivos históricos e estruturais e de atribuir as causas da pobreza, da violência e da falta de perspectivas de futuro a motivos pessoais e individuais.

Nessa mesma linha, é com indignação que vejo que parte da oposição à candidatura de Dilma à Presidência da República, em todas as regiões do Brasil, inclusive em Itabaiana, tem como únicos fundamentos o preconceito e a desinformação.

Quero deixar claro que não que votar em Serra não é um crime ou o fim do mundo. É uma opção e um direito no contexto da democracia. O incomodo tem a ver com os argumentos, ou a falta deles. Por exemplo, as Igrejas tem feito campanha contra a Dilma por ela ter, supostamente, se declarado a favor da discriminalização do aborto. Ou seja, a candidata teria se posicionado, se realmente o fez, a favor do aborto deixar de ser um crime. Isso não quer dizer que ela, pessoalmente, seja favorável ao aborto. Mesmo que ela fosse, o presidente da república, na democracia, não tem como fazer valer sua opinião porque a democracia é o reino das leis e as leis dependem dos poderes instituídos. Discriminilizar o aborto não seria obra apenas do executivo, mas também do legislativo e do judiciário. Gostaria que o Serra se pronunciasse claramente a esse respeito, principalmente, porque ele se diz um especialista em saúde pública.

Outro preconceito veiculado nos bastidores da campanha é que Dilma é homossexual. Particularmente defendo que a orientação sexual é assunto de fórum íntimo e pessoal. Do mesmo modo, compartilho com o princípio segundo o qual a competência e o caráter das pessoas independem do fato de serem mulheres ou homens, homossexuais ou heterossexuais. E o Serra como se posiciona a respeito de tema?

Tenho ouvido que Dilma é bandida. Creio que isso esteja associado ao fato de Dilma ter sido fichada e presa durante o Regime Militar. Neste caso, existem várias possibilidades de interpretação. A primeira, com o qual discordo e me oponho, é o ponto de vista a partir do qual se faz essa afirmação. Isto é, se olharmos do ponto de vista do Regime Militar, de seus governos e das idéias e princípios que defendia, de fato, a Dilma pode ser vista com uma bandida. Afinal, ela se opôs a Regime Militar e ao Estado Ditatorial e por isso ela foi presa e torturada. Se você é a favor do Regime Militar e contra a democracia então, tudo bem, a Dilma é uma bandida mesmo.
Mas existe outra possibilidade de pensar a prisão de Dilma. O Regime Militar implantou um Estado Ditatorial sem liberdades e garantias para o cidadão. Contra essa situação muitas pessoas lutaram, muitas foram presas e torturadas, como a Dilma; outras exiladas, como o Serra; e outras ainda, mortas. Dessa perspectiva, a Dilma não é uma bandida, para mim, nesse aspecto, ela é um exemplo, uma heroína. Preservou sob tortura o nome de colegas de militância e luta contra uma ditadura que afetava não apenas a vida dela, mas de muitos brasileiros. Gostaria de ouvir da boca do Serra se ele, como ex-exilado, também acha a Dilma uma bandida...

Uma última confusão (para não dizer mentira) é que Dilma não governará sem Lula.
Também fico pensando sobre isso. Acredito sinceramente que a Dilma tem qualidades técnicas e políticas para exercer a chefia do executivo brasileiro. Por outro lado, não se pode deixar de notar que a questão não é apenas o nome de uma pessoa. O foco, perdido, deve estar nos projetos políticos para o Brasil.

Nesse aspecto vejo uma diferença substancial entre o projeto do PT e seus aliados e o do PSDB, DEM e seus aliados. A diferença pode ser ilustrada pelo crescimento do número de Universidades Federais e de seus Campi por todo o Brasil durante o governo Lula em contraposição o estado de calamidade que as mesmas universidades ficaram ao final do governo do FHC. O curioso é que o presidente intelectual quase destruiu as universidades federais e o presidente considerado analfabeto as ressuscitou.

Em resumo, eu diria que o PSDB, DEM e seus aliados, representados por Serra, tem um projeto nacional elitista. Até acredito que eles pensam nos pobres. Mas eles pensam nos pobres como pobres, isto é, como uma parcela da sociedade que deve ser amparada e assistida, mas para continuarem a serem pobres para que outra parte da sociedade, bem menor, possam ter os benefícios da profusão dos bens e da sociedade de consumo. Isto é quase uma reedição da velha estrutura social brasileira baseada na separação entre a Casa Grande e a Senzala. É como um aluno meu disse certa vez, "professor, como pode existir
ricos, se não existir pobres..." Ele não estava sendo irônico.

O projeto do PT e seus aliados, representados por Dilma é diferente. É o projeto que leva universidade pública para o interior do país, para os filhos de analfabetos, é o projeto que cria esperança e expectativa de um mundo diferente, menos desigual e, por isso, melhor. Nesse projeto a pobreza não é condição para a riqueza, o analfabetismo ou a baixa escolaridade não são condições para o ensino superior público e de qualidade. É esse projeto que oferece condições para romper com a separação entre a Casa Grande e a Senzala ... É com esse Brasil que sonho e pelo qual luto diariamente morando e trabalhando em Sergipe em sala de aula, realizando pesquisa e projetos de extensão e dirigindo um campus da UFS no agreste... Por tudo isso e por acreditar que o
caminho aberto por Lula é o melhor, mais justo, mais democrático é que defendo o voto em Dilma.

Desabafo de professora

Desabafo de uma PROFESSORA, mas uma reflexão a todos que se preocupam com a EDUCAÇÃO de nossas crianças e jovens!! Em época de eleição,vale a reflexão!!!Como cidadãos,o que estamos fazendo?A escola não é responsável por tudo,ela é parte da sociedade...

RESPOSTA À REVISTA VEJA

"Sou professora do Estado do Paraná e fiquei indignada com a reportagem da jornalista Roberta de Abreu Lima “Aula Cronometrada”. É com grande pesar que vejo quão distante estão seus argumentos sobre as causas do mau desempenho escolar com as VERDADEIRAS razões que geram este panorama desalentador.

Não há necessidade de cronômetros, nem de especialistas para diagnosticar as falhas da educação. Há necessidade de todos os que pensam que: “os professores é que são incapazes de atrair a atenção de alunos repletos de estímulos e inseridos na era digital” entrem numa sala de aula e observem a realidade brasileira.

Que alunos são esses “repletos de estímulos” que muitas vezes não têm o que comer em suas casas quanto mais inseridos na era digital? Em que pais de famílias oriundas da pobreza trabalham tanto que não têm como acompanhar os filhos em suas atividades escolares, e pior em orientá-los para a vida? Isso sem falar nas famílias impregnadas pelas drogas e destruídas pela ignorância e violência, causas essas que infelizmente são trazidas para dentro da maioria das escolas brasileiras.

Está na hora dos professores se rebelarem contra as acusações que lhes são impostas. Problemas da sociedade deverão ser resolvidos pela sociedade e não somente pela escola.

Não gosto de comparar épocas, mas quando penso na minha infância, onde pai e mãe, tios e avós estavam presentes e onde era inadmissível faltar com o respeito aos mais velhos, quanto mais aos professores e não cumprir as obrigações fossem escolares ou simplesmente caseiras, faço comparações com os alunos de hoje “repletos de estímulos”. Estímulos de quê? De passar o dia na rua, não fazer as tarefas, ficar em frente ao computador, alguns até altas horas da noite, (quando o têm), brincando no Orkut, ou o que é ainda pior envolvidos nas drogas. Sem disciplina seguem perdidos na vida.

Realmente, nada está bom. Porque o que essas crianças e jovens procuram é amor, atenção, orientação e disciplina.

Rememorando, o que tínhamos nós, os mais velhos, há uns anos atrás de estímulos? Simplesmente: responsabilidade, esperança, alegria. Esperança que se estudássemos teríamos uma profissão, seríamos realizados na vida. Hoje os jovens constatam que se venderem drogas vão ganhar mais.. Para quê o estudo? Por que numa época com tantos estímulos não vemos olhos brilhantes nos jovens? Quem, dos mais velhos, não lembra a emoção de somente brincar com os amigos, de ir aos piqueniques, subir em árvores? E, nas aulas, havia respeito, amor pela pátria... Cantávamos o hino nacional diariamente, tínhamos aulas “chatas” só na lousa e sabíamos ler, escrever e fazer contas com fluência. Se não soubéssemos não iríamos para a 5ª. Série. Precisávamos passar pelo terrível, mas eficiente, exame de admissão. E tínhamos motivação para isso.

Hoje, professores “incapazes” dão aulas na lousa, levam filmes, trabalham com tecnologia, trazem livros de literatura juvenil para leitura em sala-de-aula (o que às vezes resulta em uma revolução), levam alunos à biblioteca e a outros locais educativos (benza Deus, só os mais corajosos!) e, algumas escolas públicas onde a renda dos pais comporta, até a passeios interessantes, planejados minuciosamente, como ir ao Beto Carrero.

E, mesmo assim, a indisciplina está presente, nada está bom. Além disso, esses mesmos professores “incapazes”, elaboram atividades escolares como provas, planejamentos, correções nos fins-de-semana, tudo sem remuneração;

Todos os profissionais têm direito a um intervalo que não é cronometrado quando estão cansados. Professores têm 10 minutos de intervalo, quando têm de escolher entre ir ao banheiro ou tomar às pressas o cafezinho. Todos os profissionais têm direito ao vale alimentação, professor tem que se sujeitar a um lanchinho, pago do próprio bolso, mesmo que trabalhe 40hs. semanais. E a saúde? É a única profissão que conheço que embora apresente atestado médico tem que repor as aulas. Plano de saúde? Muito precário.

Há de se pensar, então, que são bem remunerados... Mera ilusão! Por isso, cada vez vemos menos profissionais nessa área, só permanecem os que realmente gostam de ensinar, os que estão se aposentando e estão perplexos com as mudanças havidas no ensino nos últimos tempos e os que aguardam uma chance de “cair fora”.Todos devem ter vocação para Madre Teresa de Calcutá, porque por mais que se esforcem em ministrar boas aulas, ainda ouvem alunos chamá-los de “vaca”,”puta”, “gordos “, “velhos” entre outras coisas. Como isso é motivante e temos ainda que ter forças para motivar. Mas, ainda não é tão grave.

Temos notícias, dia-a-dia, até de agressões a professores por alunos. Futuramente, esses mesmos alunos, talvez agridam seus pais e familiares.

Lembro de um artigo lido, na revista Veja, de Cláudio de Moura Castro, que dizia que um país sucumbe quando o grau de incivilidade de seus cidadãos ultrapassa um certo limite.

E acho que esse grau já ultrapassou. Chega de passar alunos que não merecem. Assim, nunca vão saber porque devem estudar e comportar-se na sala de aula; se passam sem estudar mesmo, diante de tantas chances, e com indisciplina... E isso é um crime! Vão passando série após série, e não sabem escrever nem fazer contas simples. Depois a sociedade os exclui, porque não passa a mão na cabeça. Ela é cruel e eles já são adultos.

Por que os alunos do Japão estudam? Por que há cronômetros? Os professores são mais capacitados? Talvez, mas o mais importante é porque há disciplina.

E é isso que precisamos e não de cronômetros. Lembrando: o professor estadual só percorre sua íngreme carreira mediante cursos, capacitações que são realizadas, preferencialmente aos sábados. Portanto, a grande maioria dos professores está constantemente estudando e aprimorando-se. Em vez de cronômetros, precisamos de carteiras escolares, livros, materiais,quadras-esportivas cobertas (um luxo para a grande maioria de nossas escolas), e de lousas, sim, em melhores condições e em maior quantidade. Existem muitos colégios nesse Brasil afora que nem cadeiras possuem para os alunos sentarem. E é essa a nossa realidade! E, precisamos, também, urgentemente de educação para que tudo que for fornecido ao aluno não seja destruído por ele mesmo. Em plena era digital, os professores ainda são obrigados a preencher os tais livros de chamada, à mão: sem erros, nem borrões (ô, coisa arcaica!), e ainda assim se ouve falar em cronômetros. Francamente!!

Passou da hora de todos abrirem os olhos e fazerem algo para evitar uma calamidade no país, futuramente. Os professores não são culpados de uma sociedade incivilizada e de banditismo, e finalmente, se os professores até agora não responderam a todas as acusações de serem despreparados e “incapazes” de prender a atenção do aluno com aulas motivadoras é porque não tiveram TEMPO.

Responder a essa reportagem custou-me metade do meu domingo, e duas turmas sem as provas corrigidas."